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Política

Unida contra o ministro da Defesa, Marinha deu parecer negativo à exoneração do CEMA

O Conselho do Almirantado aprovou parecer contra exoneração. Mas que condições tem o CEMA perante a tutela?

Paulo Duarte

À hora do almoço já era tarde. Quando o Presidente da República pôs o pé na porta — com os “três equívocos” que enumerou ao início da tarde de quarta-feira — para travar a exoneração do almirante Mendes Calado como chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), já o Conselho do Almirantado tinha apreciado a carta do ministro da Defesa com a proposta de exoneração do comandante da Marinha. O colégio de vice-almirantes pronunciou-se contra a exoneração, sabe o Expresso, num sinal de união contra a decisão inédita de João Gomes Cravinho. O parecer não é vinculativo, mas nestas circunstâncias tem valor político. A hierarquia não gostou do gesto do Governo.

Marcelo Rebelo de Sousa ainda gostou menos, por considerar “inexplicável” só ter sabido da reunião — onde o ministro da Defesa comunicou ao CEMA que o ia exonerar — “depois de esta ter acontecido”, como noti­ciou o Expresso. O Presidente puxou dos galões de comandante supremo, chamou a si os poderes de decisão, disse que este “não é o momento” de substituir o atual CEMA pelo vice-almirante Gouveia e Melo e criou um novo problema político. Mendes Calado, que já estava em conflito com Cravinho e com o almirante Silva Ribeiro, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas (CEMGFA), fica ainda mais fragilizado. “O CEMA não tem condições para ficar e dar garantias de que consegue trabalhar junto do poder político para ajudar o ramo”, diz ao Expresso uma fonte militar.