Política

Corrupção, ciganos, subsídios e apoios a idosos. As quatro condições do Chega para acordos autárquicos

Para qualquer entendimento com o PSD a nível local, Ventura faz quatro exigências: um plano de combate à corrupção, a criação de um plano de acompanhamento dos problemas da etnia cigana, a redução para metade da subsidiodependência e a aplicação de um complemento solidário municipal para idosos. Quem desrespeitar será alvo de sanção disciplinar, avisa o líder

Ventura quer, agora, um “cadastro étnico-racial”
José Fernandes

O líder do Chega garante que não haverá qualquer acordo nacional autárquico com o PSD e impõe quatro condições para viabilizar a governação local, após eleger 19 vereadores nas eleições autárquicas de domingo.

"Não haverá qualquer acordo autárquico nacional entre o Chega e o PSD. O PSD não quis qualquer acordo pré-eleitoral, não faz sentido também um acordo pós-eleitoral. Ou entre o Chega e o PS", afirmou André Ventura em conferência de imprensa a partir da sede do partido, em Lisboa.

Entre as condições para qualquer acordo de incidência local – no caso de Santarém onde os dois partidos mais votados (PSD e PS) estão empatados em número de mandatos, à frente do Chega que elegeu um vereador –, o líder do Chega exige a criação de um plano municipal de prevenção da corrupção, a criação de um plano de acompanhamento dos problemas da etnia cigana, a redução para metade da subsidiodependência e a aplicação de um complemento solidário municipal para idosos. Metade das condições já tinham sido também impostas inicialmente por Ventura para viabilizar o Governo do PSD nos Açores. Caso isto não aconteça, "o Chega tratará o PSD como trata o PS, o BE ou todos os outros", alertou.

Questionado sobre a constitucionalidade do plano para ciganos, Ventura recusou que a medida seja persecutória, defendendo que é essencial resolver o "problema da subsidiodependência" com a comunidade cigana, assim como as carências ao nível da habitação e da participação de crianças e mulheres na escola e no mercado de trabalho. "Não é perseguição. Uma grande parte da votação massiva no Chega ocorreu onde há grandes comunidades ciganas. Não me parece ser contra a Constituição", vincou.

Rejeitando qualquer acordo com câmaras socialistas ou comunistas, o líder admite, contudo, que "em alguns casos de ingovernabilidade absoluta" pode levar o Chega a participar em certas decisões desses executivos, assegurando que qualquer "entendimento pontual" será avaliado caso a caso: "Não precisamos de ter acordos com o PS e a CDU para proteger as populações", frisou. E deixa ainda um aviso para os autarcas do partido: Quem viabilizar um executivo socialista estará a violar os princípios e as regras do Chega e poderá ser alvo de um processo disciplinar e ser mesmo expulso.

"Darei pessoalmente instruções a todos os deputados municipais do Chega para que não viabilizem qualquer executivo, mesmo que este seja participado por um vereador, à revelia da direção nacional do partido e das suas diretrizes nacionais. Seremos implacáveis a nível disciplinar", assegurou.

Afirmando que o partido tem que ser coerente, Ventura considerou que apesar da pressão e de soluções aparentemente "tentadoras"em câmaras e juntas de freguesia, o Chega não pode ter duas caras, nem duas palavras: "O Chega não se pode tornar de múltiplas variáveis. Não pode haver um Chega em Lisboa, outro em Moura, outro em Loulé", insistiu.

Por último, o líder do Chega anunciou a realização da I Convenção de Autarcas, que decorrerá entre sexta-feira e sábado, em Nogueira da Regedoura, no distrito de Aveiro. O objetivo é afinar a estratégia e definir o caminho futuro do partido a nível local.