O conselheiro de Estado Luís Marques Mendes deixou esta noite, na SIC-Notícias, um alerta a todos os líderes políticos. “Politicamente falando, vivemos numa situação pantanosa. As coisas não vão bem, quer do lado do Governo, quer da oposição.”
Para António Costa ficou, preto no branco, aquilo que se começa a desenhar nas intervenções do Presidente. “O Governo está manifestamente em fim de ciclo: cansado, esgotado, com a geringonça partida a meio e já sem o apoio que antes tinha do PR - não é oposição, mas não é o apoio que tinha anteriormente”, disse Mendes.
Mas os recados não foram só para o Governo, também para a oposição. Depois de Marcelo ter desafiado os patrões a “lutar” por encontrar “protagonistas mais fortes” para liderar a oposição, Mendes disse que a "oposição não existe. É um vazio. A oposição tem estado deprimente’”. No debate do Estado da Nação, foi isso que o Conselheiro de Estado viu: “Um país assim, com Governo cansado e alternativa inexistente, é um país em situação pantanosa daqui a dois anos. A prazo, isto pode conduzir mesmo à ingovernabilidade política, seja à esquerda, seja à direita. Podemos voltar aos governos de curta duração dos anos 80”.
“O debate sobre o estado da Nação foi uma decepção. Passou ao lado do essencial. E o essencial é que a Nação está numa encruzilhada. E não é só pela fadiga pandémica. Há três razões mais profundas. Politicamente, vivemos numa situação pantanosa; economicamente, o país está sem ambição; socialmente, a situação está muito degradada”, afirmou ainda, para depois deixar uma crítica ao Plano de Recuperação e Resiliência: “Falta-lhe ambição, estratégia correcta e ímpeto reformista. Nos próximos anos, vamos crescer, é verdade, mas vamos crescer menos que os países de leste; estamos a caminho da cauda da Zona Euro, ficando apenas a Grécia atrás de nós; em termos relativos, comparado com outros países, vamos empobrecer e não enriquecer. É o empobrecimento relativo. Governo e oposição encolhem os ombros. É uma pobreza, de parte a parte.
E nem o otimismo de António Costa, nesse debate de quarta-feira, parece animar o comentador. Olhando para a “experiência dos últimos 20 anos onde houve a aplicação de cerca de 60 mil milhões euros da UE”, Mendes assinalou que “as assimetrias regionais diminuíram”, mas que “a diferença, nestes 20 anos, entre a região mais rica e a região mais pobre, diminuiu (…) sobretudo, porque a região mais rica (LVT) deixou de ser tão rica.”. Mais: “O que tudo isto prova é que despejar dinheiro para cima dos problemas não chega. É preciso reformar. E se não há reformas, o país cresce menos que os outros e é ultrapassado pelos outros. A prova, em sentido inverso, é o tempo de cavaquismo (1985/95). Em apenas 10 anos Portugal aproximou-se da UE quase 13 pp.”
”O PM passou o debate do estado da Nação a anunciar milhões de euros da bazuca para vários sectores. Parecia que estava a distribuir cheques. Gerando a ideia: agora é que é. Agora é que vamos crescer. Agora é que vamos ser europeus a sério. Esta ideia é muito enganadora. Pode ser mais publicidade enganosa que realidade verdadeira”, concluiu o comentador.