Política

Costa admite voltar a exigir quarentena aos voos vindos do Reino Unido e recusa mudar a matriz de risco: "Seria inútil"

O primeiro-ministro recusa mexer nos critérios de avaliação de risco, como pediu o autarca de Lisboa. Depois das críticas de Merkel, que disse que a escalada da pandemia em Portugal "poderia ter sido evitada" se não se tivesse aberta a porta aos britânicos, Costa admite vir a fazê-lo se essa for a recomendação saída da reunião desta tarde do Conselho Europeu, em Bruxelas.

ANTÓNIO PEDRO SANTOS

No momento mais crítico da pandemia nos últimos meses, António Costa foi a Bruxelas para o último Conselho Europeu da presidência portuguesa e atirou para todos os lados. Recusa mudar a matriz de risco - "seria inútil" - numa resposta tanto a Marcelo Rebelo de Sousa como ao presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, que pediu em entrevista ao Público mudança de critérios e por outro lado responde às críticas de Angela Merkel sobre a aceitação de turistas britânicos.

António Costa defende-se com a "coordenação". "A recomendação geral da UE é a imposição de quarentena quando o país está acima de determinado número de casos, e os britânicos não estavam", afirmou o primeiro-ministro à entrada para o Conselho Europeu que decorre esta quinta-feira em Bruxelas, respondendo desta forma à crítica que foi deixada por Angela Merkel no Parlamento alemão. Merkel pegou no exemplo de Portugal para dizer que devia restringir-se a entrada de pessoas vindas de países da zona de risco para evitar o descontrolo da situação pandémica agora que a variante Delta está a tornar-se dominante.

Portugal não o fez, mas o primeiro-ministro admite agora vir a fazê-lo se essa for a decisão do Conselho Europeu. "Vamos discutir no Conselho quais são as decisões a tomar relativamente ao controlo de entrada de pessoas originárias de países terceiros, designadamente do Reino Unido. Portugal tem seguido a doutrina de praticar o que é acordado ao nível europeu", disse, admitindo que Portugal voltará a pôr o Reino Unido na lista negra exigindo quarentena a quem vier daquele país -- se o Conselho entender que o Reino Unido preenche os critérios para tal.

Questionado sobre se Portugal também pode vir a entrar na lista negra do resto da Europa, devido ao aumento da incidência e do Rt que se tem verificado nas últimas semanas, Costa admitiu que sim, mas recusa alterar os critérios. "Muita gente em Portugal tem discutido a matriz de risco que adoptámos, mas essa é a matriz do Centro Europeu de Controlo de Doenças, por isso é inútil alterarmos a matriz", disse, numa indireta a Marcelo Rebelo de Sousa que há muito defende uma alteração da matriz em função do avanço da vacinação.

Certo é que a variante Delta (de origem indiana) está a exigir medidas mais restritivas e, lembra António Costa, tudo indica que se vai tornar dominante em toda a Europa até ao final de agosto. Portugal só está a sofrer mais agora do que os outros países da Europa porque, desta vez, diz, a trajetória do contágio começou ao contrário - de ocidente para leste. "O sentido de circulação da pandemia alterou-se significativamente. No ano passado fomos dos últimos a ser atingidos porque ela vinha do leste, mas desde o início do ano que se tem verificado o contrário. Começou no Reino Unido, depois Irlanda e agora Portugal", disse o primeiro-ministro, numa tentativa de explicar o porquê de Portugal estar a ter um desempenho pior nos números de novos casos do que o resto da Europa.