Delegados, observadores, militantes, simpatizantes e jornalistas já viram este filme. O III Congresso do Chega em Coimbra repete muitos dos engulhos da II Convenção Nacional do partido em Évora. Oito meses depois, os recados para consumo interno mantêm, em grande medida, o tom e o conteúdo. As queixas dos delegados descontentes também. Os critérios para as votações de moções e listas, idem. Como nos partidos do ‘mainstream’, o autoproclamado partido antissistema deixa, nas suas reuniões magnas, as fraturas internas à vista de todos. Jogos de bastidores, conflitualidade, traições e incompreensão por decisões tomadas pela cúpula.
Bem pode André Ventura dizer, como disse ao Expresso em antecipação do Congresso, que “o partido já percebeu a importância de estar unido”. Ou que o grande objetivo deste Congresso é chegar ao Governo de Portugal, não é entrar em “guerras espúrias e superficiais”. Por isso, Ventura não espera a repetição do domingo dramático de Évora, o último dia da Convenção em que só à terceira conseguiu que a direção que propôs fosse aprovada pela maioria de dois terços dos votos dos congressistas. Mas o filme ainda pode ter sequela. Em Coimbra, o presidente do partido atirou-se tanto aos seus adversários “internos” como “externos”, apelidando ambos de “marionetas do sistema”, “avençados de um paradigma que não quer mudar, que tem horror a qualquer mudança de fundo”. E jogou por antecipação: agora as votações, tanto das moções como das listas para os órgãos de direção do partido, vão precisar apenas de maioria simples (50%). Será mais fácil.