Política

Cravinho acusou Sócrates de não querer combater a corrupção. “Deve ter a memória afetada”, responde deputada do PS

A vice-presidente da bancada do PS, Constança Urbano de Sousa, contrariou todas as declarações do ex-ministro socialista, na noite de segunda-feira, em entrevista ao Polígrafo. O pacote Cravinho “foi praticamente todo concretizado” e o PS não tem de ter vergonha nem medo, mas antes “muito orgulho” de falar sobre corrupção

A reação da cúpula do PS às palavras do ex-ministro socialista João Cravinho chegou esta manhã através da vice-presidente da bancada parlamentar, Constança Urbano de Sousa. A também ex-ministra considera que Cravinho “deve estar com a memória um pouco afetada” quando afirma que o PS nunca quis seguir o seu plano de combate à corrupção durante a liderança de José Sócrates.

Em entrevista ao Polígrafo, da SIC Notícias, Cravinho até disse mais: Sócrates “tirou o combate à corrupção do plano do Governo”, e a estratégia, que foi desenhada pelo próprio Cravinho em 2006, foi “liminarmente recusada”.

Pelo contrário, Urbano de Sousa, em entrevista à TSF, considerou que o PS não deve ter vergonha da sua história recente, tão pouco da mais antiga. “Desde há muitos anos, há décadas, diria eu, quase praticamente toda a legislação que nós temos hoje no domínio da luta contra a corrupção foi aprovada pela mão do Partido Socialista.” Inclusive o pacote Cravinho que, garantiu, “foi praticamente todo concretizado” ainda no tempo de José Sócrates. Segundo a deputada, "a única medida do chamado pacote Cravinho que não foi aprovada e que o PS não apoiou foi a do enriquecimento ilícito, por ser considerado inconstitucional, e que depois foi considerado inconstitucional duas vezes".

Nas declarações de segunda-feira à noite, o antigo ministro do Executivo de António Guterres sugeriu que António Costa não pode abster-se de tomar posição sobre o caso Sócrates, tal como o próprio partido, pedindo que o tema seja levado ao congresso nacional dos socialistas. Urbano de Sousa responde que os socialistas não têm vergonha nem medo, mas antes “muito orgulho” de falar sobre o tema, mas que decisões dessa natureza competem ao secretário-geral.

Cravinho usou das palavras de Marcelo Rebelo de Sousa no discurso do 25 de Abril — “que é verdadeiramente notável” — para pedir ao PS para “olhar o passado sem contemplações e o presente sem flagelação”. Só assim, continuou, pode “resultar um reforço da capacidade, do conhecimento, da vontade de corrigir práticas erradas (...), e [de] defender o futuro”.

Além do tema da corrupção, Cravinho falou diretamente sobre a dedução da acusação a José Sócrates, para dizer que sente “uma náusea quase física” com tudo o que está a acontecer, e cujas conclusões aguarda “com expectativa e alguma preocupação”.

Mas não deixou de atirar ao alvo. “Há comportamentos inadmissíveis para todo e qualquer cidadão decente, ainda mais para um socialista.” A hostilidade perante esses comportamentos “tem de nascer nas vísceras”.