"Canalhice", "repugnância" ou "cobardia moral". Foi assim que José Sócrates reagiu às críticas de Fernando Medina, arrumado como "essa personagem" às ordens do líder do partido que lhe "mandou dizer isso", e cujo nome também não pronunciou na entrevista desta quarta-feira à TVI. Hora e meia depois, Ana Catarina Mendes, líder parlamentar e ex-secretária-geral adjunta, comentou as declarações do antigo primeiro-ministro sem escalar na troca de acusações - mas recomendou "recato" -, no programa "Circulatura do Quadrado", no mesmo canal de televisão.
Perante a violência das palavras de Sócrates, Ana Catarina Mendes pouco mais além foi disto: "É uma tremenda injustiça o ataque feito à direção do PS e a António Costa, considerado um traidor". E acrescentaria, sem equivaler o seu tom ao de Sócrates, que "o PS nunca apagou a história do seu partido, e sabe que José Sócrates deu a primeira a única maioria absoluta ao PS".
A seguir, justificou o mantra do "à justiça o que é da justiça...", que Sócrates qualificou como "silêncio", por António Costa entender que, apesar de o processo correr há sete anos, é preciso deixar a "justiça fazer o trabalho que tem de fazer". Ao contrário de Fernando Medina - que esta terça-feira fez um dos ataques públicos mais violentos a Sócrates por parte de um socialista -, a líder parlamentar não fez qualquer juízo de valor sobre os factos da acusação ou o comportamento ético do ex-secretário-geral. "Acho que os temos em que o José Sócrates se dirigiu a pessoas que enunciou e outras que não enunciou são injustas e Sócrates sabe que são injustas".
Ana Catarina Mendes disse que percebia a necessidade de neste momento dar uma entrevista, mas alegou haver "momentos em que é preciso recato e o recato aconselhava a que não tivéssemos aqui também uma nova sessão de justificação, a explicar coisas". Mensagem para dentro do partido?
Até porque, segundo a líder parlamentar, "o processo está longíssimo de estar acabado", e insistiu: "Honestamente, acho que o ataque ao PS não é correto. Fui secretária-geral adjunta, recebi a carta de desfiliação de José Sócrates, e em momentos da vida do partido tentei contactar José Sócrates...". Mas não explicou porque não conseguiu efetivar esse contacto.
Quanto ao processo, considera "grave" se a "acusação caiu" por ser "frágil", o que classificou como "uma fragilidade, não para o Ministério Público todo", mas para "quem dirigiu a investigação e deduziu a acusação", ou seja a equipa de Rosário Teixeira (mas também Joana Marques Vidal?). Para Ana Catarina Mendes - que ficou marcada pelo processo Casa Pia, por ser casada com Paulo Pedroso - trata-se de um motivo de "desconfiança" para os cidadãos e uma "evidente fragilidade para a democracia".
No caso de a acusação se confirmar, como estamos a falar de um ex-primeiro-ministro, isso faz com que "os cidadãos tenham a legítima necessidade de olhar para os partidos também com desconfiança", reconheceu, na declaração em que foi mais longe quanto a uma potencial condenação de José Sócrates. "E aí acho que os partidos têm de fazer o seu trabalho: quem tem responsabilidades públicas tem um dever acrescido perante a sociedade".
Embora reconheça que este caso, tal como a resposta da justiça, "é combustível para o populismo", sublinhou que a estratégia nacional de combate à corrupção, que o Governo acaba de lançar, tenta fazer acertos no sistema. É "classificada como insuficiente para alguns, porque acham que é preciso deitar abaixo o sistema", mas não é essa a perspetiva do PS. Também disse ser contra o fim do Tribunal de Instrução Criminal e admitiu que é preciso "olhar para o TIC e perceber que são precisos mais meios e mais juízes". E deixou um recado a João Leão: "Não se percebe muito bem quanto dinheiro foi colocado no Orçamento do Estado para que funcione" a Entidade da Transparência, uma crítica que o Tribunal Constitucional tem feito.