Política

Novo estado de emergência aprovado entre apelo a "nervos de aço" e críticas ao "Governo que não esteve à altura"

Apesar da maioria alargada que aprovou a renovação do estado de emergência, as críticas ao Governo subiram de tom. Oposição acusa o Executivo de falta de preparação e de ser responsável pelo país se ter tornado "no pior do mundo" no combate à covid-19. Eduardo Cabrita apelou à união e pediu "nervos de aço" para o combate à pandemia

Assembleia da República

Em onze estados de emergência, esta foi a terceira votação consecutiva com resultados repetidos. O decreto que decreta o nove estado de emergência recebeu luz verde no Parlamento com os votos a favor do PS, PSD, CDS, PAN e da deputada não-inscrita Cristina Rodrigues. PCP, PEV, IL, Chega e a deputada Joacine Katar Moreira também repetiram o voto contra e o BE voltou a ficar pela abstenção.

Apesar do reconhecimento geral de que a situação pandémica é grave e de que é necessário manter o quadro de restrições previsto, as críticas ao Governo subiram de tom. "O Governo tem estado bem longe do que é legitimamente exigido. Se Portugal é o pior do mundo no combate é porque quem governa não tem estado plenamente à altura", acusou Rui Rio durante a sua intervenção no plenário.

Admitindo que é "democraticamente penoso", renovar o estado de emergência, o líder do PSD lamentou não haver outra hipótese num momento tão dramático para o país. E apelou ao Executivo para relegar "a sua permanente preocupação com a propaganda política" para os tempos de campanha eleitoral.

Antes, já o deputado social-democrata Carlos Peixoto tinha feito uma intervenção na mesma linha acusando o executivo de António Costa de se ter "estatelado a comprido" nesta terceira vaga da pandemia. "Dos melhores resultados do mundo, devido ao melhor Governo do mundo, passámos para os piores resultados do mundo. O Governo acha que foi genial, apesar da desordem e do ‘salve-se quem puder", atirou.

Também a deputada do CDS , Ana Rita Bessa, lamentou que algumas das medidas tomadas pelo Executivo tenham sido tardias, obrigando o país a adotar um "confinamento severo", considerando que se o trabalho de planeamento voltar a falhar o risco é de enfrentar uma "quarta vaga" e de voltarmos a um "estado de catástrofe".

Do lado do BE, Pedro Filipe Soares acusou, por sua vez, o Governo de ter corrido sempre "atrás do vírus e nunca à frente dele", não antecipando as vagas da pandemia e evitando uma maior pressão sobre o SNS. "A última coisa de que o país precisa é um Governo austero, que quer ser o campeão dos poupadinho", observou.

João Oliveira, do PCP, reiterou que o estado de emergência e o confinamento devem ser "exceção" e "não a solução", pedindo ao Governo que prepare desde já o desconfinamento. A estratégia, sublinhou, deve passar por acelerar a vacinação, rastrear os contactos, reforçar o SNS, proteger os trabalhadores que não estão em teletrabalho, proteger o emprego e as PME.

"Vergonha de Governo, vergonha de Parlamento que não consegue dar um cartão vermelho ao governo que nos leva para uma das maiores catástrofes da nossa história", afirmou, por sua vez, André Ventura, acusando o Executivo de ter abandonado os sectores mais afetados pela pandemia, como a restauração e o comércio.

Para Inês Sousa Real, líder parlamentar do PAN, as medidas de confinamento em vigor são a "única alternativa", mas "não serviram nem a saúde nem a economia”. João Cotrim de Figueiredo, da IL, insistiu por sua vez que a testagem precisa de ser "massiva" e que os atrasos no Plano de Vacinação se podem também prender com "critérios demasiado complexos."

Em resposta às críticas, o ministro da Administração Interna admitiu que janeiro foi o "mês mais difícil" desde o início da pandemia, mas que as últimas medidas começam a ter efeito. "Por isso, temos de prosseguir, prosseguir com nervos de aço", apelou Eduardo Cabrita. Já a ministra da Saúde, Marta Temido, considerou que o Executivo adotou sempre "medidas proporcionais", mas avisou que o caminho é longo e incerto: "Não sabemos que mais variantes teremos de enfrentar".

O decreto do novo estado de emergência, aprovado esta quinta-feira no Parlamento, mantém as atuais restrições em vigor, uma vez que o país se mantém numa situação de "calamidade pública" e o SNS continua sob forte pressão. Mas há uma novidade: o diploma coloca fim à proibição da venda de livros nos hipermercados.