O coordenador da task force para o Plano de Vacinação contra a covid-19, Francisco Ramos, demitiu-se do cargo, na sequência de "irregularidades detetadas pelo próprio no processo de seleção de profissionais de saúde no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, do qual é presidente da Comissão Executiva". O anúncio foi feito esta quarta-feira pelo Ministério da Saúde, que explicou que as funções do coordenador serão asseguradas pelos "restantes membros do núcleo de coordenação" até ser escolhido um sucessor.
Para o PSD e CDS, Francisco Ramos deverá ser substituído por um elemento das Forças Armadas, com experiência em operações logísticas de larga escala. Chega e a Iniciativa Liberal aplaudem a demissão de Francisco Ramos, que consideram "tardia", e questionam se não deveria também deixar o cargo de presidente da comissão executiva do Hospital da Cruz Vermelha. Já o PAN pede um "cabal esclarecimento" ao Governo.
PSD quer acelerar vacinação para "salvar o verão" e pede que Exército ajude na operação logística
Rui Rio manifesta-se preocupado com o ritmo de vacinação no país e alerta que é preciso acelerar o processo para se "salvar o verão". Para o líder do PSD, foram "problemas na task force" que conduziram à demissão de Francisco Ramos, pelo que sugere que seja um elemento do Exército, com experiência em logística, a sucedê-lo no cargo.
"As coisas não estão a correr bem e há aqui uma possibilidade de encontrar uma pessoa com o perfil adequado. Se fosse eu o que fazia era pedir apoio das Forças Armadas, mas em especial do Exército, que tem formação adequada", afirmou Rui Rio em declarações aos jornalistas nos Passos Perdidos, no Parlamento.
Nas contas do líder social-democrata, seria necessário vacinar cerca de 50 mil pessoas por dia em vez das atuais 10 mil pessoas com vista a ter 70% da população protegida contra a covid-19 em junho. "Se não o fizermos damos cabo do verão", advertiu, defendendo a importância deste objetivo para salvar a saúde e a economia.
Sobre as alegadas irregularidades na administração das vacinas, Rui Rio apontou o dedo à falta de planeamento da tutela, considerando que só existem "abusos" quando se distribuem doses a mais para os lares ou unidades de saúde.
Confrontado sobre as razões invocadas para a demissão de Francisco Ramos, Rui Rio admitiu que são estranhas, até porque nesse caso "demitia-se era da Cruz Vermelha e não da task force".
Por último, garantiu que o PSD continuará a apoiar o Governo no combate à pandemia, em nome do interesse nacional. "Temos que apontar críticas, mas manter a serenidade e trabalhar, se não o país entra em balbúrdia e não ganha nada".
PAN exige mais explicações do Governo
O PAN considera que as alegadas irregularidades na vacinação contra a covid-19, assim como a saída de Francisco Ramos do cargo de coordenador da task force para o Plano de Vacinação exigem um "cabal esclarecimento" do Governo.
"Preocupam-nos não só o apontar destas irregularidades e o que fazer com as vacinas que sobram. Não sabemos se é falta de comunicação ou se faltam diretrizes. Não consideramos aceitável que se continuem a passar estas irregularidades", disse a deputada do PAN, Bebiana Cunha.
Em relação à justificação invocada para a demissão, alegadas irregularidades na vacinação no Hospital da Cruz Vemelha, a deputada do PAN insistiu que não só essa situações mas todos os casos de administrações de vacinas indevidas devem ser apurados.
"O Governo não se pode escudar, tem mesmo que vir explicar face aos anseios e preocupações de todos face a pessoas que estão a passar a sua vez, vacinas que são atribuídas sem qualquer lógica ou diretrizes, apenas porque são excedentárias. Há a necessidade urgente de o Governo se pronunciar face a esta matéria e esperamos que o faça o quanto antes", insistiu.
Sobre o sucessor de Francisco Ramos, Bebiana Cunha considerou também que é urgente que o Executivo decida quem irá o substituir no cargo, assim como os "moldes" que terá para desempenhar o seu trabalho:"O Executivo tem Governo tem que assegurar que não exista essa ingerência, que haja aqui uma autonomia técnica para fazer o seu trabalho e levar a bom porto aquilo que todos ansiamos que o plano de vacinação da forma mais eficiente possível e também mais justa possível, porque há cidadãos que fazem parte de grupos de risco".
CDS questiona razões invocadas para a demissão
A deputada do CDS-PP, Ana Rita Bessa, admite que havia desentendimentos entre Francisco Ramos e a tutela e aponta para a "estranheza" das razões invocadas para a sua demissão do cargo de coordenador da task force para a vacinação.
"A pergunta óbvia é: não faria mais sentido demitir-se desse cargo
na Cruz Vermelha também ou para começar? Vamos assumir que sim, que foi essa razão que levou à sua demissão, mas não somos ingénuos", afirmou Ana Rita Bessa em declarações nos Passos Perdidos, no Parlamento.
Segundo a deputada centrista, era notório o "desacerto muito grande" entre Francisco Ramos e o Governo, sublinhando os casos dos critérios de vacinação para idosos com mais de 80 anos ou os incumprimentos no plano de vacinação.
"A grande questão é esta: hoje foi o dia em que o primeiro-ministro anunciou ao país que íamos dar um salto na vacinação, agora é que vamos começar a vacinar em velocidade de cruzeiro e não deixa de ser sui generis que nesse dia se demita a pessoa que ordena a operação com esta magnitude", acrescentou.
Ana Rita Bessa sugeriu ainda que o Governo escolha para suceder a Francisco Ramos um oficial das Forças Armadas, com experiência em complexas operações logísticas. "Queremos saber quem assume este barco agora. Na task force há elementos das Forças Armadas capacitados para gerir a operação logística, parece-nos bem que em vez de se criar grupos de trabalho, que entreguemos a quem sabe", concluiu.
Chega acusa pressão do Governo para saída de Francisco Ramos
André Ventura congratulou-se com a demissão de Francisco Ramos, considerando que a decisão só peca por tardia e que resulta da pressão do Governo.
"Nós saudamos esta demissão do coordenador nacional da task force para a vacinação. É uma decisão que já devia ter sido tomada e é evidente que houve pressão do Governo para que abandonasse estas funções", declarou o líder do Chega.
Lamentando que não tenha "assumido responsabilidade" pelas várias irregularidades no Plano de Vacinação e que tenha "feito insultos" ao eleitorado do Chega – quando disse que só quem tinha votado no partido nas Presidenciais poderia ficar incomodado com a administração da segunda dose da vacina aos cidadãos que a receberam indevidamente –, Ventura admite que não havia outra alternativa a não ser a demissão de Francisco Ramos do cargo.
"O que fez foi lastimável. Mostrou não ter qualquer competência para este cargo e o que aconteceu é que Francisco Ramos poupou-se à vergonha de vir na terça-feira à Comissão de Saúde e de ser pedida a sua demissão", sublinhou.
Questionado sobre o sucessor no cargo, o líder do Chega disse esperar que seja escolhido pela sua competência técnica para gerir um "plano tão sensível" como o da vacinação e não pela "carteira de militante" no PS.
Iniciativa Liberal quer que sucessor seja escolhido pela "competência"
Também João Cotrim de Figueiredo considera que a demissão de Francisco Ramos de coordenador da task force para a vacinação peca por tardia e questiona se não haverá também razões para o cargo de presidente da comissão executiva do Hospital da Cruz Vermelha
"A incompetência e desfaçatez já deviam ter tido consequências. E sendo a razão da saída relacionada com outra função, não conseguir definir as prioridades no próprio Hospital a que preside é só mais uma evidência da sua desadequação ao cargo. E dessa função não se demite?", questiona em declarações ao Expresso.
Para o deputado da Iniciativa Liberal (IL), é essencial que o próximo coordenador da task force seja escolhido pela "competência" e não pelos "serviços prestados ao PS" ou pela tendência para "se meter na vida política ativa".