O Bloco de Esquerda considerou esta quinta-feira que Eduardo Cabrita não tem condições para continuar ministro da Administração Interna por se ter revelado incapaz de fazer mudanças estruturais no funcionamento do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
Esta posição foi transmitida pelo líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, na Assembleia da República, na sequência da reação da cúpula do SEF e do próprio Ministério da Administração Interna ao caso em que um cidadão ucraniano morreu nas instalações deste serviço de segurança no aeroporto de Lisboa.
"A composição do Governo é uma competência do primeiro-ministro [António Costa], mas o Bloco de Esquerda entende que o SEF tem problemas sistémicos e que, ao fim de oito meses, o ministro da Administração Interna já não pode fazer parte da solução para resolver esses mesmos problemas", declarou Pedro Filipe Soares.
No Parlamento, o líder da bancada bloquista frisou que o SEF "não pode ser um offshore de impunidade" e rematou: "A quem não fez até agora não damos confiança para fazer mais à frente". Isto depois de o Governo ter prometido uma reestruturação no SEF e de Eduardo Cabrita ter mesmo, esta quinta-feira, ironizado, dizendo "congratular-se" por, depois de "ter estado quase sozinho" a "agir" quando "muitos estavam distraídos, confiandos e desatentos", se ter gerado interesse público por esta situação: "Bem-vindos ao combate pela defesa dos direitos humanos."
O Bloco tem criticado a atuação neste Governo e lamentado que não tenham sido retiradas consequências políticas deste caso, mas só esta tarde deu o passo de considerar que Cabrita não deve continuar à frente da Administração Interna, depois de outras vozes, como o social-democrata Duarte Marques, terem defendido que o ministro "já devia ter saído". Mas o 'empurrão' do dia foi de Marcelo Rebelo de Sousa, que falou sobre o assunto em moldes semelhantes aos de 2017, quando precipitou a demissão da antecessora de Cabrita, Constança Urbano de Sousa. Esta quinta-feira, Marcelo afirmou: "É preciso saber se os que deram vida ao sistema podem dar vida ao seguinte". Para já, nada indica que Cabrita queira sair - e o primeiro-ministro ainda não veio falar do assunto.