A hipótese de o Governo levar ao Parlamento - para "debate e votação" - o plano de reestruturação da TAP foi avançado este domingo por Marques Mendes. No habitual comentário semanal na SIC, o ex-líder do PSD dava garantias de que isso iria acontecer depois de Bruxelas ter aprovado o projeto para a TAP (em reunião marcada para esta quinta-feira), mas o certo é que essa informação não chegou a PCP e BE, parceiros preferenciais do Governo na Assembleia da República.
Catarina Martins, por um lado, e Bruno Dias, por outro, foram unânimes na recusa em reagir a Marques Mendes. "Não cabe ao Bloco de Esquerda comentar comentadores", disse a líder bloquista. "Não comentamos comentários", disse o deputado comunista e membro da comissão parlamentar de Economia, Inovação e Obras Públicas.
Certo é que o Governo não os informou dos moldes em que pretende levar o tema ao Parlamento e há até dúvidas formais quanto à possibilidade de submeter a votos dos deputados um plano de reestruturação de uma empresa. "Apenas temos conhecimento das declarações públicas do ministro feitas na própria Assembleia da República", diz ao Expresso Bruno Dias. Pedro Nuno Santos "adiantou que o Governo iria dar conhecimento da proposta relativa à TAP para debate em sede de comissão parlamentar", acrescentou o deputado do PCP. "Só temos conhecimento disto", concluiu.
Já a líder bloquista, confrontada esta segunda feira em conferência de imprensa realizada na sede do Bloco, considerou "estranho que um plano seja aprovado em Bruxelas antes de ser aprovado em Portugal", mas sublinhou o facto de que "um plano de reestruturação que não ouça os trabalhadores não pode servir também a empresa".
O BE tem reunido com estruturas representativas dos trabalhadores da TAP, que ainda na semana passada se concentraram junto ao Parlamento para reclamar "diálogo e transparência" num processo de reestruturação que pode levar a perto de três mil despedimentos. "Temos estado reunidos com os representantes dos trabalhadores", disse Catarina Martins, sublinhando que esta segunda-feira a deputada Isabel Pires se reuniu com sindicatos dos trabalhadores da TAP.
Do lado do PCP são conhecidas as críticas a todo o processo. Em comunicado emitido na semana passada, os comunistas reclamam que "deve ser Portugal e não a União Europeia a decidir sobre o futuro da TAP", pelo que recusam "a sujeição de qualquer plano de recuperação/reestruturação da TAP a instâncias internacionais". O PCP exige ainda a "defesa dos postos de trabalho e dos salários, a recapitalização da empresa nos montantes necessários à satisfação das suas necessidades e a sua preparação para o período pós-epidemia" e considera que o futuro da companhia aérea passa ainda pela "recuperação do controlo público dos aeroportos nacionais", nacionalizando a ANA.