“Pormo-nos do outro lado não nos leva a nada”, diz Vítor Agostinho. A frase do delegado comunista, à conversa com o Expresso durante uma pausa para almoço, resume muitas das teses transmitidas ao longo dos dois primeiros dias do congresso comunista. Estar ao lado do PS (com limites, e avaliações, daqui para a frente) é uma inevitabilidade para impedir o pior: o regresso ao poder da direita, agora unida a forças “antidemocráticas”, “anti-comunistas” e “reaccionárias”. Ao manterem-se na 'geringonça', os comunistas sublinham que não estão a dar um “livre-trânsito” a António Costa: a posição de partida é a de que a 'geringonça', mesmo que forçada e coxa, não deve cair e deve ser o PS a segurá-la contra a tal “ofensiva” anti-democrática.
O Orçamento do Estado foi uma “oportunidade” concedida ao PS; neste fase, para estender o prazo de vida que lhe foi dado, António Costa tem de “optar” se em assuntos essenciais se quer continuar a aliar ao PSD. “Agora já não é só com o PSD, virá o Chega atrás”, diz um dirigente comunista ao Expresso. O que os une a nível da política geral pode ser mais forte do que o que os separa a nível das políticas. Basta o PS querer.
Dentro do pavilhão do congresso comunista, onde desfilam dirigentes e delegados, a 'geringonça' foi nestes dois dias pouco falada. A viabilização do Orçamento do Estado muito menos. Mas o alerta para o crescimento do sentimento anti-comunista, de forças anti-democráticas como o Chega (nunca nomeado) que querem devolver o PCP à clandestinidade política, e a forma de os combater percorreu todo o congresso. E as três coisas unem-se debaixo do mesmo chapéu da estratégica política do PCP para futuro.