Política

Jerónimo de Sousa: “Marcelo foi mais o Presidente dos poderosos do que dos trabalhadores”

Em entrevista à Antena 1, o líder comunista admite não votar a favor do novo Orçamento de Estado, e acusa Marcelo de “branquear o PSD” para atingir um bloco central. Revela ainda que o partido está a preparar um documento sobre toda a polémica mediática do Avante!. E não abre o jogo quanto ao futuro da liderança

TIAGO MIRANDA

O PS poderá não contar com o PCP para aprovar o Orçamento de Estado para 2021. A garantia é de Jerónimo de Sousa, em entrevista à Antena 1: “No momento em que esse orçamento [for] mais do mesmo - o benefício dos mesmos do costume, o prejuízo para quem trabalha ou trabalhou, para a maioria dos pequenos e médios empresários - eu pergunto: como é que podem exigir do PCP um voto a favor de um documento que reflicta opções de classe e do lado dos poderosos?”

O secretário-geral comunista ressalva que ainda não são conhecidos os conteúdos do OE e não vai fazer um “julgamento precipitado”, mas avisa: “este é um momento de opções”.

Ora, para Jerónimo as opções de Marcelo Rebelo de Sousa têm sido claras: está a “procurar branquear o PSD” com o objetivo “formal ou informal” de garantir um bloco central. “O Presidente da República tem uma visão um bocado elástica da Constituição”, acusou, dando como exemplo a legislação laboral passada no Parlamento.

“Em momento decisivos em que o PR foi chamado a pronunciar-se, muitas vezes ficou do lado de lá - do seu lado, no fundo. Tem a sua opção política, ideológica, e não foi capaz de dar corpo, substância e realização [aos princípios da Presidência da República].” E é perentório: Marcelo não foi o Presidente de todos os portugueses, “foi mais o Presidente dos poderosos do que dos trabalhadores.”

O líder comunista foi também questionado sobre a Festa do Avante!, e revelou que o partido está a pensar fazer um dossiê sobre o processo de manipulação que os comunistas consideram ter cercado o evento. “Com a festa do Avante procurou-se registar a esperança de que é possível aos portugueses não serem prisioneiros do medo. Foram-nos feitas exigências nunca pedidas a mais ninguém mas conseguimos”, concluiu o secretário-geral do PCP, que continuou sem desvendar o seu futuro no partido.

João Ferreira, o candidato presidencial, "é um quadro de grande valor" do partido, mas isso não significa que esteja na linha de sucessão, até porque "não existe um problema de gerações no PCP".