Com uma hora de atraso, André Ventura chegou esta manhã ao palco da II Convenção Nacional do Chega, em Évora, ao som de um hino apoteótico da autoria de um militante. O líder do Chega afirmou que o "partido inaugura uma nova fase" após a sua reeleição há quinze dias e que tem bem definidos os objetivos a médio e longo prazo – a começar pelas eleições Presidenciais.
"Nós queremos a segunda volta das eleições Presidenciais. Vou lutar com tudo o que tenho para ficar no segundo lugar das eleições presidenciais, em janeiro", começou por garantir Ventura, prometendo lutar taco a taco com Marcelo Rebelo de Sousa na corrida a Belém. Mas há mais metas no horizonte para o partido: alcançar o terceiro lugar nas legislativas e ser a "grande surpresa" das autárquicas.
"Este Congresso seja qual for o rumo que dê ao partido tem que ter sempre esta ambição presente", prosseguiu. O presidente do Chega comprometeu-se ainda a manter o ADN do partido e recusou "vergar-se" ao sistema ."Se nos afastarmos da nossa matriz fundadora, até podemos ganhar o Governo mas vamos perder Portugal", afirmou, sob o forte aplauso de 600 participantes.
Houve também palavras dirigidas aos militantes, em jeito de recado, para aqueles que terão ligações a extremistas, garantindo Ventura que o Chega tem que ser um "partido que funcione para fora, mas que também seja capaz de funcionar para dentro" e de "ter a disciplina que se espera" do partido.
Lamentou ainda as críticas ao Chega enquanto partido antissistema, mas garantiu estar imune aos ataques. E admitiu que a personalização do partido – que se confunde com o líder –, pode constituir no futuro um obstáculo, deixando um apelo às bases. "Quanto mais nos atacam, mais fortes somos, quanto mais nos humilham, mais força ganhamos. Este vírus que eles chamam contra a democracia quero vê-lo espalhá-lo por todas as terras, por todas as famílias. Os nossos guerreiros, os nossos generais. Não há partidos que sobrevivam só com os seus líderes e direção. E eu tenho os melhores militantes de Portugal".
"O nosso objetivo é claro: vencer, vencer e vencer. Contra tudo e contra todos", insistiu.
Moção estratégica “Mobilizar Portugal”
O discurso que refletiu, aliás, algumas das ideias que constam da sua moção estratégica sob o tema "Mobilizar Portugal". No documento, Ventura refere que pretende prosseguir o caminho de "construção da IV República" e "eleger deputados regionais" já nas eleições para a Região Autónoma dos Açores. Reafirma ainda que a prioridade passa pelo Chega conseguir o pódio tornando-se na terceira força política nas próximas eleições legislativas, ultrapassando o BE, PCP e PAN. "Temos de manter o trabalho e a ambição em níveis absolutamente insuperáveis para os nossos adversários políticos", afirma Ventura.
Na moção, o presidente do Chega defende que o "país se encontra numa enorme encruzilhada" e aponta em todas as direções: crítica o Governo minoritário do PS que diz ser "incapaz de lidar com uma gigantesca crise sanitária, económica e social" e Marcelo Rebelo de Sousa, um Presidente da República "completamente inativo e cúmplice do Governo". Acusa ainda o centro-direita e a direita de estarem "completamente existentes" com críticas implícitas ao PSD e ao CDS.
Neste âmbito, Ventura volta a recusar alianças com outros partidos sem objetivos concretos, insistindo na necessidade de o seu partido consolidar-se nesta fase. "Não contem com esta liderança para ser a muleta de qualquer partido do arco do sistema com meros objetivos de calculo politico ou de estabilidade governativa", diz perentório.
Projeto de revisão constitucional
Compromete-se também a promover uma profunda revisão constitucional, denunciar os privilégios das minorias, contestar a existência de racismo estrutural no país, assim como combater a corrupção e a imigração ilegal, algumas das principais bandeiras do Chega.
A nível estratégico, Ventura promete ainda criar uma "forte rede de gabinetes de estudos" nos vários níveis do partido de forma a responder aos problemas e desafios do país a partir dos próximos atos eleitorais. "Quero mobilizar Portugal pela força e pela herança que recebi de homens como Sá Carneiro, de que sou hoje o principal continuador em Portugal. Quero continuar a conferir ao Chega a inspiração dos valores civilizacionais cristãos que homens como o papa João Paulo II nos ensinaram", acrescenta.
A II Convenção do Chega conta em Évora, entre este sábado e domingo, com a participação de cerca de 500 delegados, 130 observadores e 50 convidados.
A representar o partido europeu Identidade e Democracia (ID), do qual o Chega faz parte, está Gerolf Annemans, presidente do partido, Vlaams Belang, presidente do Comité de Assuntos Constitucionais do ID e presidente da delegação de assuntos financeiros para as relações com os EUA do Conselho Municipal de Antuérpia, Thierry Mariani, antigo ministro de Nicolas Sarkozy e representante de Marine Le Pen, do Comité Nacional de Negócios Estrangeiros do partido.