Política

Marcelo sobre Reguengos: "É preciso ler todos os relatórios" e Justiça "tem muita matéria para apreciar"

Mesmo de férias, o Presidente da República não resistiu em enviar recados à ministra da Segurança Social e ao Ministério Público sobre a necessidade de apurar responsabilidade sobre o surto de covid-19 num lar de Reguengos. Mas foi ainda mais longe. Avisou a DGS de que tem de ser "um exemplo inspirador" nas regras a definir para a Festa do Avante e pediu "tolerância zero" no combate ao racismo e "cabeça fria" para que não se gere "um clima emocional" no País.

HOMEM DE GOUVEIA

Antes do primeiro mergulho de mar das suas férias no Algarve, Marcelo Rebelo de Sousa deu uma mini-conferência de imprensa. Rodeado de jornalistas que o aguardavam junto à praia do Alvor, onde vai gozar cinco dias de férias, o Presidente da República comentou todos os principais assuntos que dominam a actualidade política: a polémica em torno do surto de covid-19 num lar de reguengos, a realização da Festa do "Avante!" em plena pandemia e o surgimento de movimentos radicais de cariz racista. E ainda teve tempo para falar na evolução da pandemia em Portugal e defender o levantamento das interdições britânicas à vinda de turistas britânicos para o nosso País.

O Presidente, que como o Expresso avançara leu o inquérito da Ordem dos Médicos - ao contrário do que assumiu a ministra Ana Mendes Godinho na entrevista ao jornal -, disse que "é preciso ler todos os relatórios", um recado para a governante. Marcelo trouxe, aliás, para a discussão os quatro relatórios até agora conhecidos sobre este caso: um primeiro, da autoria do presidente da Câmara Municipal, outro da Fundação que é dona do lar e ainda os relatórios da Administração Regional de Saúde e da Ordem dos Médicos.

Os documentos "não têm exactamente as mesmas conclusões" e, se é certo que o Presidente acha que não deve "fazer nenhum tipo de comentário sobre uma matéria que está a ser investigada pelo Ministério Público", também não se coibiu de deixar um recado final: a Justiça "em muita matéria para apreciar".

"Quem acompanhou o processo de proteção dos lares para esta pandemia - e eu acompanhei- sabe que foi uma tarefa brutal", disse ainda o Presidente da República, para sublinhar a "complexidade" do problema" e pedir "serenidade" na análise do caso de Reguengos e que dele se "retirem lições para o futuro".

"Avante!": "Será dada uma explicação geral sobre as regras"

Marcelo Rebelo de Sousa também não se esquivou a responder a perguntas sobre a preparação da Festa do "Avante!" e as regras de proteção sanitária que serão impostas à organização comunista. "Parece-me que há-de haver um ponto em que será dada uma explicação geral sobre as regras", disse, afirmando que a iniciativa do PCP é "uma realidade muito complexa", que envolve normas aplicáveis a áreas tão diferentes quanto os transportes, a restauração e os espectáculos.

"São muitas regras e espero que as autoridades sanitárias as expliquem e que elas sejam aplicáveis a todos", disse o Presidente, fazendo, de seguida, pedagogia política. "É preciso que as pessoas olhem para a DGS como um exemplo motivador e uma referência fundamental de segurança", disse Marcelo, apelando para que seja feita uma comunicação clara sobre as normas em vigor. "Se for bem explicado e aumentar a credibilidade das instituições, as pessoas acreditam", conclui, sem antes dizer que "confiar nas autoridades sanitárias é um trunfo", numa altura em que se torna certo que a pandemia "não vai passar em setembro. Temos de conviver com ela muito tempo".

Racismo é "primitivo" e "selvagem"

Antes de por o pé na areia, Marcelo Rebelo de Sousa teve ainda oportunidade para se referir à polémica gerada em torno dos movimentos radicais que, recentemente, introduziram um discurso racista e xenófobo na vida pública nacional. "Parece-me primitivo que haja quem faça do racismo uma forma de afirmação social. É tão óbvio que este tipo de discurso é contra o respeito dos direitos humanos", afirmou o Presidente.

Marcelo defendeu o princípio da "tolerância zero" perante este tipo de fenómenos e classificou o racismo como "um absurdo" e como "uma luta selvagem imprópria de uma democracia". O Presidente apelou ainda ao "bom senso e cabeça fria" para evitar que o País entre "num clima emocional" que fomente radicalismos e divisões profundas.

Marcelo, que notou "uma diferença muito grande" no Algarve com alguns sinais de retoma na actividade turística - "está a avançar, lentamente"- aproveitou ainda para dizer que "ninguem percebe porque não se abrem corredores aéreos" para a vinda de turistas estrangeiros para a região. O recado é, principalmente, para as autoridades britânicas e, embora o Presidente não o tenha referido diretamente deixou claro que "nenhum país tem zero casos". E, claro, Portugal continua a registar diariamente cerca de duas centenas de novos casos de infecção por covid-19.