O primeiro passo está dado: a nacionalização ‘forçada’ não se concretizou, o Estado aumentou a sua participação na TAP e com isso avançará para a substituição da administração privada e para um novo plano de reestruturação da companhia aérea. Mas, para a esquerda, isto não chega: as próximas etapas serão cruciais para perceber o que acontecerá à empresa, assim como aos seus trabalhadores, e importa manter o Governo sob pressão, exigindo respostas.
Foi este o tom que PCP e Bloco de Esquerda escolheram, esta sexta-feira, para reagir à notícia do acordo para a TAP: ambos defendiam o controlo público e a nacionalização da companhia, e os passos já anunciados não são, para já, suficientes para tranquilizar os partidos de esquerda - longe disso.
Se é certo que, para o Bloco de Esquerda, “a privatização foi um erro”, como defendeu esta manhã a deputada Isabel Pires no Parlamento, é também verdade que esta decisão gera um rol de “dúvidas”. Nomeadamente, sobre o plano de reestruturação que se seguirá: “É preciso uma orientação estratégica para uma companhia tão importante para o país”, salientou.
As dúvidas são particularmente relevantes no que toca ao que vai acontecer aos trabalhadores e às possíveis levas de despedimentos, ainda por definir. Por isso mesmo, o BE quis saber qual o plano estratégico do Governo e qual a “salvaguarda” que garante aos trabalhadores, assim como qual será a opção em relação ao modelo de gestão. Isto a juntar à exigência de uma auditoria à gestão privada, para que o país perceba “o que se passou” até a companhia chegar à complicada situação financeira em que se encontra.
PCP contra "cutelo"
Logo depois foi a vez de o deputado comunista Bruno Dias reagir ao acordo para a TAP, frisando a importância de o Estado “assumir efetivamente e totalmente os destinos da companhia” sem “servir interesses ou agendas”. “Isso implica avançar muito mais para prosseguir no progresso pleno da companhia”, defendeu.
Para o futuro, não basta o Estado ter a partir de agora nas suas mãos uma percentagem de 72,5% da TAP: “Quem decide sobre a companhia aérea é uma questão fundamental. Temos de colocar a TAP no controle público mas assumir a sua defesa para o futuro e colocando-a numa estratégia de desenvolvimento. A TAP deve ser um instrumento de soberania no sentido das decisões que o país deve assumir e não ser condicionada por outros”. Por isso, o acordo revelado esta quinta-feira é a “peça de um processo que temos de assumir que não pode ficar por aqui”.
O elevado risco de perda de postos de trabalho volta a ser uma preocupação. “Não podemos assumir as sentenças de despedimento à partida. Não pode ser a estratégia do cutelo. Temos de projetar a companhia para o futuro, não estarmos condenados a cortar direitos e salários”, garantiu.
Também os comunistas se mostraram interessados em “apurar responsabilidades” pelo que aconteceu até aqui na gestão da companhia aérea, dizendo-se “disponíveis para avaliar e discutir todas as iniciativas para defender a companhia”. No entanto, as dúvidas a partir de agora terão mais a ver não tanto com o que se passou até aqui, mas com a definição da TAP do futuro.