Política

PCP não vê incompatibilidade em Centeno no Banco de Portugal e apresenta candidato presidencial “lá para setembro”

Em entrevista à TSF, Jerónimo considerou mais dinheiro para o Novo Banco "inaceitável" e negou que Portugal seja um país "estruturalmente racista": "A esmagadora maioria do povo português não é racista"

TIAGO PETINGA/LUSA

Pela via legal, Mário Centeno não enfrentará obstáculos para chegar a governador de Banco de Portugal. Em entrevista à TSF, na manhã desta terça-feira, Jerónimo de Sousa esclareceu que o PCP não concorda com a proposta do PAN para criar um período de nojo de cinco anos para governantes que transitem para o regulador da banca: “Não percebo o critério. Estamos de acordo no período de nojo quanto a banqueiros e auditores, mas não vemos o mesmo em relação a ex-governantes - não vemos razões para que seja aplicado”, esclareceu.

O caminho fica assim aberto, pelo menos legalmente - a avaliação política do Parlamento sobre a nomeação não é vinculativa - para que Centeno transite para a liderança do regulador, sucedendo a Carlos Costa. Quanto à pasta mais quente da banca nesta altura - o aumento do montante que o Novo Banco previa pedir ao Fundo de Resolução em 2021 -, o líder comunista considera a decisão um “escândalo” que resulta numa “sangria desatada” dos recursos públicos e que devia levar, como o PCP tem vindo a defender, a uma nacionalização ou recuperação do controlo público do banco.

Na mesma entrevista, Jerónimo esclareceu que o PCP deve viabilizar o Orçamento Suplementar na generalidade, seja através de abstenção ou de voto favorável, mas que das negociações na especialidade, e especialmente das garantias do Governo que cumprirá os anúncios que já fez em termos de apoios a trabalhadores e pequenas empresas, dependerá o sentido de voto final: neste momento, está “tudo em aberto”.

Após dias de declarações políticas sucessivas sobre a existência ou não de racismo em Portugal, e com os partidos de direita a garantir que não existe racismo estrutural no país, Jerónimo pronunciou-se: para o secretário-geral do PCP, “estruturalmente, a esmagadora maioria do povo português não é racista”, embora exista “preconceito e manifestações de racismo, aqui ou acolá”.

Jerónimo adiantou ainda que o PCP apresentará um candidato próprio às eleições presidenciais “lá para setembro”. E quanto ao seu próprio futuro? Sem nunca esclarecer se tem vontade de ficar ou de sair da liderança após 16 anos como secretário-geral, Jerónimo reafirmou que a questão “não será um problema” do congresso de novembro e, declarando sentir-se “fisicamente bem”, frisou também estar satisfeito por saber que se apontam “quatro ou cinco dirigentes” em condições de assumir mais responsabilidades no partido, como o Expresso escrevia no sábado: “É uma garantia de que este partido tem futuro”.