Política

PSD, CDS, PAN, IL e Chega contra, Bloco não fecha a porta a ida de Centeno para BdP

PSD diz esperar que a remodelação governamental não seja “premiada à revelia” do Parlamento com outras funções no Estado, garantindo que o partido se irá opor à eventual nomeação de Mário Centeno para governador do Banco de Portugal. CDS, PAN, IL e Chega criticam o timing da saída do ministro do Governo. Já o Bloco de Esquerda diz que a preocupação deve ser a proteção do BdP dos “interesses dos banqueiros”
Mário Centeno continua em modo de tabu sobre a sua saída, uma forma de evitar que comece já a competição pelo lugar
EMMANUEL DUNAND/Getty images

O primeiro-ministro anunciou esta terça-feira que Mário Centeno deixará o cargo de ministro das Finanças na próxima segunda-feira, sendo substituído por João Leão, até agora secretário de Estado do Orçamento. Segundo o chefe do Governo, esta transição dá as "melhorias garantias de continuidade" da política orçamental e consiste numa "tranquila passagem de testemunho" num momento de grave crise.

Em conferência de imprensa, a líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, referiu-se a Mário Centeno como o "melhor ministro das Finanças de sempre" que delineou em 2014 uma nova estratégia para o país em termos económicos, através da devolução de rendimentos, redução de impostos e criação de emprego.

"Hoje todos os portugueses reconhecem no professor Mário Centeno a enorme capacidade de liderar a equipa das Finanças, de prestigiar o país e de credibilizar as instituições europeias. Se hoje Portugal tem o prestígio que tem junto da Europa e do mundo isso deve-se a Mário Centeno ", disse Ana Catarina Mendes.

PSD: “A independência deve ser salvaguardada”

O PSD considera, por sua vez, que a saída de Mário Centeno do Governo não constitui uma surpresa e que o ministro das Finanças não tinha condições para continuar no Executivo. "Concretizou-se aquilo que nós dissemos, que não tinha condições para continuar e por isso mesmo foi apresentada hoje a sua remodelação", declarou Duarte Pacheco.

O deputado social-democrata disse esperar que essa remodelação não seja "premiada à revelia" do Parlamento com outras funções no Estado, garantindo que o PSD se irá opor à eventual nomeação de Mário Centeno para governador do Banco de Portugal.

"A independência deve ser salvaguardada. Não podemos utilizar o Estado como forma de premiar comportamentos ou amigos. As instituições têm dignidade e têm que estar acima de jogos pessoais, que neste processo parecem estar bem evidentes", acrescentou.

CDS fala em “novela inusitada”

O líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, classificou de "novela inusitada" os episódios que levaram à saída de Centeno do Governo e defendeu que a falta de coordenação no executivo deve ser imputada ao primeiro-ministro.

"Estamos todos bem recordados dos rasgados elogios que o PM teceu ao longo dos últimos anos aquele que considerou o Ronaldo das Finanças que granjeou bastante credibilidade nas instâncias internacionais que serão tão importantes na resolução desta crise e na capacidade de solidariamente que a Europa terá para vencer esta economia", afirmou o presidente do CDS.

Para Francisco Rodrigues dos Santos, foi "péssimo" o timing desta remodelação no Governo uma vez que esta terça-feira o ministro das Finanças, que em Conselho de Ministros levou a aprovar o orçamento retificativo não será o mesmo que o irá defender na Assembleia da República.

E disse ainda esperar que o próximo ministro das Finanças venha a nomear o seu ex-chefe para governador do BdP, pois isso "feria a independência e a autonomia" da entidade supervisora do sector bancário.

PAN lamenta timing do anúncio

Já o deputado e porta-voz do PAN, André Silva, considerou que é "lamentável" que a saída de Centeno do Governo seja anunciada no dia em que se agendou o debate sobre as regras de nomeação para o Banco de Portugal, considerando que o Governo deveria ter tido mais "respeito" pelo trabalho parlamentar.

"Nós sabemos desde há muito tempo, desde o tempo das legislativas, que seria este o objetivo do Governo e do Mário Centeno", observou.

Admitindo que a recuperação económica é também resultado da "competência" de Centeno, André Silva entende que não se pode admitir uma situação de "falta de ética" na passagem direta do ministro para o BdP.

"Não pode haver independência, nem idoneidade em quem nomeou cargos para o conselho de administração do Banco de Portugal e em quem esteve envolvido na resolução de vários bancos", sustentou.

BE não fecha a porta à ida de Centeno para o BdP

A deputada do BE Mariana Mortágua afirmou que a saída de Mário Centeno do cargo de ministro das Finanças tornou-se "evidente" com o episódio da injeção no Novo Banco de 850 milhões de euros "sem uma auditoria e sem aparentemente o PM ter tido conhecimento dessa solução."

Para o BE, sublinha Mariana Mortágua, importa não a discussão do substituto para o cargo mas as medidas do Orçamento suplementar. "Queremos continuar as negociações que já tivemos e que elas incidam exatamente sobre as prioridades que temos tido", insistiu.

Questionada sobre a eventual ida de Centeno para o BdP, a deputada do Bloco não fecha a porta a essa hipótese : "A grande preocupação deve ser a proteção do Banco de Portugal (BdP) dos interesses dos banqueiros e o Bdp é uma instituição que está infiltrada por banqueiros. Nós não aceitamos que se trate governantes e banqueiros da mesma forma no acesso às entidades reguladoras", realçou.

Centeno “não esteve à altura das circunstâncias”, acusa a IL

A Iniciativa Liberal (IL) considera que é "preocupante" que o primeiro-ministro assuma que o novo ministro das Finanças dá garantias de continuidade, uma vez que isso significa que o Governo continuará uma "carga fiscal recorde" e a "austeridade encapotada" das cativações.

De acordo com João Cotrim de Figueiredo, Mário Centeno governou na conjuntura económica mais favorável durante muitos anos e "abandona o barco" numa altura de crise antes desta "se agravar a pique" ."Ficará para sempre conhecido como alguém que não esteve à altura das circunstâncias. Onde está o sacrifício pelo coletivo que os socialistas tanto falam? Parece que só governam quando há dinheiro, depois começam a fugir nos tempos de aperto. E parece que não foge apenas o Ministro, havendo já Secretários de Estado igualmente a saltar do barco em busca de outras bóias de salvação", afirma o deputado da IL.

Para os liberais é fundamental também que Mário Centeno não seja o próximo governador do Banco de Portugal, defendendo que é impensável que se possa vir a ter de se pronunciar sobre algumas decisões tomadas por si enquanto Ministro. "É também é muito ingénuo achar que Mário Centeno enquanto Governador iria gerir sem conflito de interesses a relação do futuro Ministro das Finanças João Leão, que foi seu secretário de estado todos estes anos", acrescenta.

Chega questiona “independência” de Centeno no BdP

Já André Ventura considerou "irónico" o facto de Mário Centeno sair do Governo antes de ser aprovada legislação que cria novas regras para nomeação em entidades independentes, acusando o Governo de ter um atitude de "desrespeito" pela Assembleia da República.

O líder do Chega disse ainda não compreender que Mário Centeno deixe a pasta das Finanças para se tornar governador Banco de Portugal, questionando as garantias de "independência" e "objetividade" no eventual novo cargo.

Ventura lamentou ainda que Centeno abandone o cargo face à atual conjuntura de uma crise económica sem precedentes. "Ficará na história enquanto o ministro do excedente, mas também fugiu quanto nós mais precisávamos dele e quando estava no momento de lutar pela maior crise financeira de que há memória na nossa história", acusou.

O mal-estar entre Centeno e Costa era evidente e a saída do titular das Finanças acontece um mês depois da polémica injeção no Novo Banco, que foi aprovada pelo governante sem o conhecimento do primeiro-ministro, que deu garantias no Parlamento que nenhuma transferência seria aprovada antes de serem conhecidos os resultados da auditoria ao banco.

(Em atualização)