No seu habitual espaço de comentário dominical, no Jornal da Noite da SIC, Marques Mendes viu uma vitória para o primeiro-ministro. "O que fica para o futuro é que ele conseguiu o que queria," disse. E o que ele queria era dar o seu apoio pessoal ao Presidente, matar a ideia de qualquer candidato presidencial da área do PS — como era o caso de Ana Gomes — e reduzir ao mínimo qualquer tensão no PS em torno da questão presidencial. "Até porque não haverá Congresso para discutir Presidenciais."
Mas o panorama mudou em minutos, com a intervenção de Ana Gomes na SIC Notícias. Foi um verdadeiro volte-face. Depois de ouvir António Costa declarar apoio a uma recandidatura a Marcelo, Ana Gomes disse ao Expresso que não ia ser candidata, mas cinco dias passados deu meia-volta na decisão e reabriu o cenário.
"Eu disse que não sou candidata, mas neste momento todos os democratas têm que refletir", afirmou Ana Gomes este domingo na SIC Notícias relativamente a uma potencial candidatura a Belém. "Admito refletir", reafirmou, "eu e outras pessoas".
Classificando o episódio de "lamentável, deprimente mesmo" ("nunca se viu o lançamento da recandidatura do PR ser anunciado numa fábrica por alguém que não estava sequer na qualidade de dirigente partidário, mas na de PM" e “depois de o PR ter acabado de se ingerir de forma bastante criticável nos assuntos do Governo"), a ex-diplomata mostrou preocupação com que vê as próximas presidenciais.
"Isto de facto mudou muita coisa. Vem dar muita preocupação a toda a gente, aos democratas do nosso país em particular. É grave e faz-nos refletir. O candidato do regime (Marcelo) vai polarizar a sociedade e isso vai facilitar a vida dos extremos e num momento em que temos aí a extrema direita organizada. É tão grave que eu tenho que relectir se sou candidata".