Política

Não há “crise”, “minicrise” ou “nanocrise”: a desvalorização do problema com Centeno por António Costa

Costa repetiu os argumentos de Mário Centeno sobre a auditoria que tinha defendido que seria necessária para dar o ok à transferência para o Novo Banco. Primeiro-ministro dá o caso como encerrado.

José Sena Goulão/Lusa

Há uma altura nas polémicas do Governo em que o primeiro-ministro acaba a usar a declaração: "O caso está encerrado", não respondendo a mais questões sobre o assunto ou contornando as que lhe são feitas. Para António Costa, o comunicado que emitiu na quarta-feira à noite, depois da reunião com o ministro das Finanças, em que reafirmou a "confiança política" em Mário Centeno, foi esse ponto final na polémica. "Não há crise, nem minicrise, nem nanocrise. Não há crise!", disse na conferência de imprensa do final do Conselho de Ministros. Assim, Costa, que ainda não tinha falado a viva voz sobre o assunto, desvaloriza a polémica. Faria o mesmo minutos depois, em entrevista à CMTV, mas acrescentando a sua nova explicação sobre auditorias e este é um ponto a notar nas declarações de António Costa.

Desde o desacerto nas posições entre António Costa e Mário Centeno sobre a transferência para o Novo Banco de 850 milhões de euros que António Costa tinha vindo a público apenas uma vez para pedir desculpas ao Bloco de Esquerda por ter dado uma informação errada no Parlamento. Depois entrou o Presidente da República em cena e António Costa não voltaria a falar. Fê-lo hoje, na conferência de imprensa depois do Conselho de Ministros.

Questionado sobre a crise política, diria: "Tal como disse o ministro das Finanças, não há crise, está tudo ultrapassado", referindo-se à declaração de Mário Centeno ao Expresso em que o ministro disse que "a crise foi ultrapassada". Nessa mesma conferência de imprensa diria Costa que a "estabilidade está restabelecida e que tudo corre normalmente" e quando confrontado com a mudança de posição que teve neste período - uma vez que no comunicado depois da reunião fala nas diferentes auditorias às contas do Novo Banco e deixou cair a ideia que para se fazer a transferência era preciso esperar pela auditoria independente que ainda decorre - respondia: "O tema foi dado como encerrado por mim nesse comunicado. Não vale a pena, concentremo-nos nos temas verdadeiramente relevantes".

Usaria a mesma fórmula minutos depois, na entrevista à CMTV, quando classificou a polémica como "fait divers" e como sendo o entretenimento de "comentadores cansados" da resposta à emergência sanitária e desejosos de quererem "regressar às tricas da política".

Nessa mesma entrevista admitiu que "como em tudo na vida, há coisas que correm menos bem" e isso também se aplica à relação com Mário Centeno com quem trabalha "há mais de seis anos" e com quem mantém uma "relação pessoal, de amizade" além da relação profissional.

Houve no entanto um ponto a notar nas respostas ao jornalista da CMTV. António Costa falaria da auditoria, que em tempos era para si essencial para que se realizasse a transferência para o Novo Banco. E desta vez disse, por outras palavras, aquela que era a argumentação de Mário Centeno. Em primeiro lugar que "as contas do Novo Banco são auditadas em diversos níveis" e em segundo lugar que referiu que a dita auditoria independente que "está atrasada" (e à qual se referia nas respostas no Parlamento ao BE) é relativa às contas de 2018. "É a lei que prevê que ela exista" depois de ser feita a transferência. Depois, não antes. "O empréstimo deste ano é relativo às contas de 2019", reforçou, por isso, haverá nova auditoria a ser feita "à posteriori".

Depois de Mário Centeno dar o caso por encerrado, esta sexta-feira foi o primeiro-ministro quem o fez. No trio envolvido, falta Marcelo Rebelo de Sousa, que ainda ontem fez saber, numa nota pública no site da Presidência da República, que mantinha a divergência em relação ao ministro das Finanças.