Para o ministro das Finanças, o célebre discurso de Mario Draghi em Londres, em julho de 2012, quando garantiu fazer tudo o que fosse necessário para salvar o euro — whatever it takes, no original — é um momento que marca para sempre a história europeia. Em declarações ao Expresso, na semana em que Draghi presidiu à ultima reunião do Conselho do Banco Central Europeu (BCE), Mário Centeno diz que “raras são as vezes em que na história se consegue com rigor identificar um momento, um decisor e uma medida que tudo muda”.
E que, embora essa simplificação possa ser injusta numa União Europeia “repleta de instituições e protagonistas”, “o mandato de Mario Draghi no BCE é uma notável exceção”. “O seu legado é hoje sinónimo de estabilidade” o que, há oito anos quando chegou a Frankfurt, não era fácil de prever.
“Estávamos no pico da crise da dívida soberana e, para lá da derrapagem de algumas economias periféricas, era o euro que estava em causa.” Nessa altura, havia já três países resgatados — Grécia, Irlanda e Portugal — e a crise ameaçava alastrar-se a outras economias da periferia, nomeadamente a Itália. Centeno reconhece que “as reformas económicas e institucionais levadas a cabo a nível nacional e europeu foram decisivas para inverter o curso da crise” mas não hesita em garantir que “as dúvidas sobre a irreversibilidade do euro só foram realmente dissipadas quando Draghi pronunciou as três palavras mais importantes que alguma vez foram ditas por um banqueiro central”.
Ainda que considere que a contribuição de Draghi para a estabilidade do euro vá “muito além dessas palavras”, nomeadamente pela forma como “o BCE ampliou de forma determinante o conjunto de medidas não-convencionais para a condução da política monetária”, “que se revelaram essenciais no apoio ao crescimento sustentado na zona euro, que permitiu a criação de 11 milhões de empregos”.
Draghi trouxe ainda ao debate europeu, diz o ministro, uma “visão essencial para concluir a União Económica e Monetária”. Sempre com capacidade técnica e intuição política. Um trabalho no qual o Eurogrupo tem também um papel. No balanço, o ministro português não tem dúvidas: “O euro nunca esteve tão forte. E isso é, em boa parte, graças a Mario Draghi.”
João Silvestre