Política

Centeno elogia legado de Mario Draghi

Banqueiro central, que sai do Banco Central Europeu no final de outubro, disse “as três palavras mais importantes que alguma vez foram ditas”

Rui Duarte Silva

Para o ministro das Finanças, o célebre discurso de Mario Draghi em Londres, em julho de 2012, quando garantiu fazer tudo o que fosse necessário para salvar o euro — whatever it takes, no original — é um momento que marca para sempre a história europeia. Em declarações ao Expresso, na semana em que Draghi presidiu à ultima reunião do Conselho do Banco Central Europeu (BCE), Mário Centeno diz que “raras são as vezes em que na história se consegue com rigor identificar um momento, um decisor e uma medida que tudo muda”.

E que, embora essa simplificação possa ser injusta numa União Europeia “repleta de instituições e protagonistas”, “o mandato de Mario Draghi no BCE é uma notável exceção”. “O seu legado é hoje sinónimo de estabilidade” o que, há oito anos quando chegou a Frankfurt, não era fácil de prever.
“Estávamos no pico da crise da dívida soberana e, para lá da derrapagem de algumas economias periféricas, era o euro que estava em causa.” Nessa altura, havia já três países resgatados — Grécia, Irlanda e Portugal — e a crise ameaçava alastrar-se a outras economias da periferia, nomeadamente a Itália. Centeno reconhece que “as reformas económicas e institucionais levadas a cabo a nível nacional e europeu foram decisivas para inverter o curso da crise” mas não hesita em garantir que “as dúvidas sobre a irreversibilidade do euro só foram realmente dissipadas quando Draghi pronunciou as três palavras mais importantes que alguma vez foram ditas por um banqueiro central”.

Ainda que considere que a contribuição de Draghi para a estabilidade do euro vá “muito além dessas palavras”, nomeadamente pela forma como “o BCE ampliou de forma determinante o conjunto de medidas não-convencionais para a condução da política monetária”, “que se revelaram essenciais no apoio ao crescimento sustentado na zona euro, que permitiu a criação de 11 milhões de empregos”.
Draghi trouxe ainda ao debate europeu, diz o ministro, uma “visão essencial para concluir a União Económica e Monetária”. Sempre com capacidade técnica e intuição política. Um trabalho no qual o Eurogrupo tem também um papel. No balanço, o ministro português não tem dúvidas: “O euro nunca esteve tão forte. E isso é, em boa parte, graças a Mario Draghi.”
João Silvestre