Política

Legislativas: 55% dos deputados eleitos pelo PSD em 2015 fora das listas

Renovação da lista de candidatos às eleições de outubro deixa de fora do parlamento mais de metade dos dos deputados sociais-democratas em funções. Para os críticos é mais limpeza de balneário de quem pensa diferente de Rui Rio ou não é do seu círculo mais próximo

Rui Duarte Silva

Expresso e Lusa

Dos 89 deputados eleitos pelo PSD em 2015, 49 estão fora das listas para as legislativas que foram aprovadas esta quarta-feira pela Comissão Política Nacional, o que corresponde a 55% do total. Há quatro anos, esse valor em relação à anterior legislatura tinha sido de 45%, avança a Lusa.

Indicados nas listas pelas estruturas, mas excluídos da versão final pela Comissão política Nacional, não voltarão à Assembleia da República na próxima legislatura nomes como os da ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, do ex-líder parlamentar Hugo Soares, do anterior secretário-geral Matos Rosa ou do antigo ‘vice’ do grupo Amadeu Albergaria.

Também não integram as listas de deputados do PSD – mas sem terem sido indicados pelas estruturas locais – o ex-secretário geral de Rui Rio Feliciano Barreiras Duarte, que se demitiu na sequência de polémicas relacionadas com a sua licenciatura e informações sobre a morada e presenças no parlamento, o antigo assessor de Passos Coelho Miguel Morgado, que não exclui uma futura candidatura à liderança do PSD, ou a vereadora da Câmara Municipal de Lisboa Teresa Leal Coelho.

A estes, juntam-se alguns ‘notáveis’ do PSD que se auto-excluíram das listas, casos da ex-ministra da Justiça Paula Teixeira da Cruz, do atual ‘vice’ presidente da Assembleia da República José Matos Correia, dos antigos vice-presidente do PSD Marco António Costa e Teresa Morais, do ‘vice’ da bancada António Leitão Amaro ou Sérgio Azevedo, cujo nome foi envolvido no inquérito ‘Tutti Frutti’, sobre alegados favorecimentos a militantes através de contratos a empresas ou de avenças.

Também citado na mesma investigação judicial, Carlos Eduardo Reis deverá entrar no parlamento na próxima legislatura, sendo o quarto nome indicado por Braga.

Aos futuros ex-deputados do PSD, juntam-se os que foram saindo ao longo da legislatura, casos do ex-líder Pedro Passos Coelho, do antigo líder parlamentar Luís Montenegro ou dos ‘notáveis’ José Pedro Aguiar-Branco e Luís Campo Ferreira.

Apesar de fazerem parte dos 39 deputados que transitaram das listas de 2015 para os efetivos de 2019 (mais um, se se somar José Carlos Barros que será suplente por Faro), são vários os parlamentares que são repetentes nas listas, mas dificilmente voltarão a sentar-se no parlamento em outubro: Virgílio Macedo, Luís Vales ou Simão Ribeiro (nos lugares 27, 31 e 33 pelo Porto, respetivamente, círculo pelo qual o PSD elegeu 14 deputados em 2015) ou Bruno Vitorino, 18.º por Setúbal (há quatro anos os sociais-democratas elegeram quatro parlamentares por este distrito).

Simbolicamente, o ex-líder do PSD Luís Filipe Menezes será o primeiro suplente no Porto e o presidente da Liga dos Bombeiros, Jaime Marta Soares, o quarto suplente por Coimbra.

A numerosa entrada de novos rostos nas listas do PSD é justificada por Rui Rio com a necessidade de renovar o partido, mas os críticos preferem chamar à troca de cadeiras “limpeza de balneário” ou “purgas cirúrgicas” para afastar quem “não pensa pela cabeça do líder”. Aos que apontam o dedo a Rio de ter sido desmedido na ingerência dos nomes escolhidos pelas estruturas locais para entrarem “novos e velhos aliados”, segundo fonte afeta à Distrital do Porto, José Silvano responde com “um feito inédito”: Todos os candidatos - no total de 331 -pertencem aos respetivos distritos, critério com o qual o presidente se comprometeu”.

A paridade de género das listas é também elogiada pelo secretário geral do PSD, apresentado a grelha final 151 mulheres e 179 homens. Silvano viu com bons olhos que, após as rondas negociações mantidas com as comissões políticas distritais, apenas duas em 22 tenham assumido a rutura com a direção nacional - Setúbal e Viana do Castelo.

José Silvano nega que, para além de Hugo Soares, outros nomes tenham sido excluídos por vontade de Rui Rio, explicando que Maria Luís Albuquerque e Miguel Pinto Luz “nunca foram vetados, aenas foi sugerida uma alteração de lugares que as respetivas comissões políticas distritais decidiram não considerar”. Silvano preferiu não comentar se Rodrigo Gonçalves, que se demitiu das funções de gestor das redes sociais da São Caetano na sequência do escândalo dos perfis fantasmas a zurzir no Governo, foi convidado por Rui Rio a integrar a lista por Lisboa.

Mas o próprio Rodrigo Gonçalves, que foi condenado por agressão a um colega de partido em 2015, acabou por desfazer a incógnita, alegando que não aceitou integrar a lista por não ir em lugar compatível ao que entende merecer.

No Porto, onde a elaboração das lista foi particularmente difícil, conforme admitiu ao Expresso o líder distrital Alberto Machado, que segue em nº 4 da grelha, atrás do cabeça de lista Hugo Carvalho, de Rui Rio e de Catarina Rocha Ferreira, advogada próxima do presidente do PSD desde que foi deputada municipal na era em que Rui Rio presidiu à Câmara da Invicta, a estrutura local absteve-se na hora da votação final.

Numa lista em que a nacional indicou sete lugares no top 10, uns por inerência, como Rio e Alberto Machado, outros “por proximidade pessoal ao líder”, excluíram-se a si próprios Hugo Neto, presidente da concelhia laranja e Palmira Bastos, líder dos Trabalhadores Sociais Democratas (TSD), em sinal de protesto pelo desrespeito pelas estruturas e militantes locais.

Com o partido dividido, ninguém assume que não irá fazer campanha pelo partido, mas paira no ar o alarme de “desmobilização” de muitos militantes que não se sentem representados.