Política

Seminário sobre racismo: “Hipócrita e racista”

Parlamento recebe conferência para apresentar relatório sobre racismo, divulgado este sábado pelo Expresso. Secretário de Estado das Autarquias diz que artigo de Fátima Bonifácio no “Público” “é vergonhoso”.

O relatório sobre o racismo, que o Expresso antecipou este sábado, não recomenda quotas para minorias étnicas, mas a ideia tem estado a ser defendida por alguns dos presentes no Seminário em que o documento está a ser apresentado, na Assembleia da República.

E perante a discordância do deputado Duarte Marques, do PSD, gerou-se um momento de tensão. Quando o parlamentar, que participava no primeiro painel, disse que discordava das quotas mas que tinha “orgulho” em ter um primeiro-ministro de origem goesa, ouviram gritos de “hipócrita” e “vergonhoso”. E houve mesmo gente a sair da sala.

“Não vá por aí”, gritou Piménio Ferreira, militante antirracista. “Acusou-nos de sermos radicais, na questão das quotas, mas depois é responsável por um discurso demagógico, vil e racista que é produzido por brancos, de classe média e da ala de direita”, disse.

Sub-secretário de Estado critica Fátima Bonifácio

Carlos Miguel, o secretário de Estado das Autarquias Locais que é “cidadão de etnia cigana”, começou a sua prestação no seminário com uma crítica ao artigo de Fátima Bonifácio, publicado este sábado no “Público”.

Numa nota prévia à sua intervenção, Carlos Miguel afirmou: “o discurso de ódio, de racismo, é algo que justifica este debate. Quando professores doutores veem o mundo como o meu e o dos outros é sinal de que algo está muito mal na comunidade. E fazem-no em artigos de opinião que são pensados, revistos e publicados. É vergonhoso aquilo que li”, disse sem nunca se referir ao nome da historiadora.

Durante a sua intervenção, Carlos Miguel, secretário de Estado da Autarquias Locais e de etnia cigana, criticou a falta de dados sobre as comunidades ciganas e a não inclusão de uma pergunta sobre a origem étnica no Censos.

“É importante saber quantos somos, onde estamos e como vivemos, até para definirmos uma política de futuro”, disse Carlos Miguel perante uma ‘chuva’ de aplausos da plateia, composta por uma maioria de ativistas que defende quotas para minorias étnicas.

O secretário de Estado - que se identificou como “um cidadão de etnia cigana e orgulhoso membro do Governo” - fez questão de falar diretamente para os seus “camaradas ciganos”.

“Conseguimos mais pessoas para a nossa causa não com radicalismos, mas com consensos”, frisou.