Política

Rio critica o tempo e o modelo dos passes sociais: “Em Lisboa custam por cabeça €26,7, no Porto €8,4, em Bragança €1,4”

Presidente do PSD garante que nunca teria tomado uma medida com o alcance dos passes únicos em ano eleitoral, muito menos se não fosse equitativa para todo o país. Em matéria de sondagens, o homem que nunca perdeu uma eleição diz que tanto lhe faz ir à frente, atrás ou ao lado

Rui Duarte Silva

Rui Rio ataca o Governo por ter lançado os passes sociais em cima das eleições, uma medida desigual em relação a todo o país e feita à custa “de todos os portugueses, o que não é justo”. Embora afirme que a entrada em vigor de passes únicos seja tendencialmente para fomentar a utilização do transporte público e detrimento do individual, o líder laranja acusa o Governo de aproveitamento político ao adotar uma “medida popular por razões eleitorais”.

“Nunca o fiz, nem fazia isso a menos de dois meses de eleições”, garante, criticando ainda o modelo, que acusa de injusto: “Somos 10 milhões e para a Área Metropolitana do Porto custa a todos €26,7 milhões, no Porto €8,4 milhões e €1,4 na CIM de Bragança”. Embora os residentes no Grande Porto não sejam os mais prejudicados, Rio afirma que não sabe se depois de a população do Porto “saber disso fica muito contente”, sublinhando que a sua medida para os transportes públicos “seria equitativa para Portugal todo”, em vez de dar “mais dinheiro onde há mais eleitores”.

Em entrevista esta manhã à Antena 1, Rio avançou que até janeiro, quando ganhou a moção de confiança a Luís Montenegro, era “impossível” fazer oposição, mesmo que o seu grupo de críticos não fosse muito grande. “Era um grupo de oito ou 12 pessoas, que se manifestava de forma organizada e ruidosa, mas que obrigava a direção nacional do partido a responder sistematicamente ao ruído”, garante, acrescentando não ter “mudado nada” de janeiro para cá na forma de fazer oposição, apenas mais silêncio e capacidade de raciocinar.

Apesar de manter ser vital o entendimento de todos os partidos, em especial do PS, para se proceder a reformas estruturais para o país, Rio defende que em ano de eleições não há clima para as fazer. Questionado sobre se andou a falar sozinho na questão da reforma da Justiça, admite não ter tido eco junto do partidos do Governo, o que, acredita, não é o mesmo que falar sozinho: “Falei para 10 milhões de portugueses”. E à pergunta sobre se aceita ser muleta de António Costa, optou por responder ao lado, afirmando que aos 60 anos, como líder da oposição, está focado no que interessa aos portugueses: em matérias estruturais, os partidos não podem estar uns contra os outros, como clubes de futebol.

"Sondagens? Tanto me faz ir à frente ou atrás”

Como sempre, Rio repete que em matéria de sondagens – que atualmente dão a vitória ao PS, sem maioria absoluta – tanto lhe faz “ir à frente, atrás ou ao lado. Não contam para nada”. Além de recordar que nunca perdeu uma eleição, lembra que antes de ter sido eleito pela primeira vez presidente da Câmara do Porto, até dois ou três dias antes das autárquicas de 2001 as sondagens davam-lhe 19% das intenções de voto e acabou a ganhar com 44%. “Quanto a sondagens estou vacinado”, afiança.

Em relação às próximas legislativas, o líder do PSD aconselha o PS a ter um objetivo independentemente do resultado, que será ganhar as eleições: “Deveria tentar afastar o PCP e o BE da esfera do poder”. E dá como motivo para o afastamento as reformas que o país necessita, a começar pela área da economia, cujo crescimento interno nos últimos anos tem sido “arrastado pela economia europeia e mundial”.

“É preciso investimento e não estou a ver o Bloco e o PCP a colaborar em políticas públicas de investimento, mas a puxar pela parte mais negativa do PS”, sustenta, referindo Rio que os socialistas “antes distribuíam o que tinham e não tinham, agora só o que têm, sem respeitar as gerações do futuro”.

Questionado sobre uma possível reedição de um bloco central se PS e PSD não obtiverem maioria absoluta nas eleições legislativas, Rui Rio diz ser difícil de acontecer, porque o país não se encontra numa situação de caos nem “que justifique o entendimento de Governo entre os dois partidos”. “Nem com a troika aconteceu”, lembra.

E como pode o PSD viabilizar um Governo sem bloco central? À questão, o líder laranja atalha que o fundamental não é quantos ministros ou secretários de Estado cada partido pode ter num Governo minoritário, frisando que “numa política reformista a sério não é preciso estar no Governo”.