António Costa não lhe chamou “bomba eleitoral”, nem tão pouco respondeu às críticas de eleitoralismo. Mas, no que toca a vender os méritos da redução dos preços nos transportes urbanos, o primeiro-ministro não deixou as coisas por menos: para muitas famílias, esta medida terá um “impacto superior ao aumento de quatro anos do salário mínimo”, assumiu o líder socialista.
Falando no final da cerimónia que juntou Governo e presidentes dos 18 municípios da Área Metropolitana de Lisboa (AML) para a assinatura dos contratos que criam um passe único no valor máximo de 40 euros para todos os concelhos da AML, o líder socialista prometeu para abril “a maior revolução nos transportes coletivos desde que os passes sociais foram criados, nos anos 70”.
Não será para menos. O passe único terminará com as centenas de títulos combinados que existem atualmente para a utilização dos transportes coletivos e vai ter apenas duas configurações: o Navegante Municipal custará 30 euros, permitindo viagens dentro de cada concelho, e o Navegante Metropolitano custará 40 euros, permitindo deslocações nos meios de transporte públicos em toda a área metropolitana. Mais: com o novo passe, as crianças até aos 12 anos podem viajar gratuitamente em toda a AML, algo que só acontecia no concelho de Lisboa. Quem tiver 65 anos ou mais, terá também um desconto de 50% no passe para toda a área metropolitana que, assim, custará €20.
Na sua intervenção, António Costa acabou por responder indiretamente aos que acusam o Governo de, com este programa, concentrar os recursos do país na Área Metropolitana de Lisboa (e, em menor escala, do Porto), e de estar a ignorar o interior do país. O líder socialista defendeu que se trata de um “programa nacional”, que a redução de tarifários chegará a todas Comunidades Intermunicipais e lembrou os “2 mil milhões de euros” do Ferrovia 2020, programa de investimentos para a renovação dos corredores ferroviários de todo o país.
Por responder ficaram as críticas de que tem sido alvo por apadrinhar uma proposta desta natureza a escassos meses das eleições europeias e legislativas. O primeiro-ministro deixou a Gare do Oriente, em Lisboa, onde decorreu a cerimónia de assinatura dos contratos dos passes, sem responder a qualquer pergunta dos jornalistas.
“É uma proposta revolucionária”, assegura Medina
Antes de António Costa, foi Fernando Medina o primeiro a intervir. Num discurso de cerca de 30 minutos, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa não escondeu a “emoção” por estar prestes a apresentar uma medida com tanto “impacto económico, social e ambiental”, elogiando, repetidamente, a “visão” de António Costa. “Nada teria sido possível sem o empenho deste Governo”, jurou o autarca. Os créditos devidamente divididos entre Câmara e Governo.
Medina, aliás, lembrou o principal objetivo do Governo com esta medida: “Recuperar nos próximos dez anos o que perdemos em transportes coletivos nas últimas duas décadas, ou seja, aumentar a quota dos atuais 25% para os 45%”. De acordo com o presidente da Câmara, existem “370 mil carros a entrarem e a saírem de Lisboa” todos os dias, o que pode ser traduzido “numa fila compacta diária entre Lisboa e Paris”, cenário que é imperativo inverter.
Esta medida, um “verdadeiro passe único metropolitano, para 18 municípios, com acesso a todos os meios de transporte, por apenas 40 euros por mês”, será a principal aposta do AML e do Governo para aumentar o recurso aos transportes coletivos. “É uma proposta revolucionária no sistema de mobilidade”, garantiu Medina.