Assunção Cristas vai mudar pelo menos um terço da Comissão Executiva e da Comissão Política do CDS no congresso deste fim de semana. O desafio assumido pela nova presidente centrista é conseguir um compromisso entre a continuidade (os dirigentes do portismo, que permanecem em peso) e a renovação com a marca da “Boss AC”, como Cristas já é nomeada nalguns círculos partidários. Ao que o Expresso apurou, uma das maiores preocupações da nova líder centrista é conseguir um melhor “equilíbrio entre géneros”, o que vai significar um maior número de mulheres na cúpula do partido.
O primeiro sintoma de continuidade, que vale também como sinal de unidade, é a permanência do eurodeputado Nuno Melo como vice-presidente e nº 2 na hierarquia centrista. Melo podia ter avançado para a liderança, não o fez, mas mantém o estatuto que conquistou nos últimos anos de liderança de Portas.
Por outro lado, Cristas decidiu reduzir a quantidade de vices, dos atuais oito, para quatro: três por indicação da líder do partido e o quarto por inerência do cargo de presidente do grupo parlamentar (Nuno Magalhães). Além de Melo e Magalhães, Adolfo Mesquita Nunes é dado como certo numa vice-presidência, sendo bastante forte a hipótese de Cecília Meireles chegar também a vice.
A ser assim, cinco dirigentes perdem o estatuto de vice-presidentes, embora possam continuar na direção do partido: Artur Lima, Teresa Caeiro, Diogo Feio, João Almeida e Pedro Mota Soares. Garantida é a substituição do atual secretário-geral, António Carlos Monteiro, por Pedro Morais Soares, que foi o diretor da campanha interna de Cristas. A nova líder deverá recuperar nomes como João Rebelo e Teresa Anjinho e promover à Comissão Política uma dezena de novos militantes de diversas áreas de atividade e origens geográficas.
À espera dos sinais
A “dança das cadeiras” que sempre anima as vésperas de congressos deixou inquietos, nos últimos dias, alguns sectores do partido, expectantes sobre o lugar que a nova presidente lhes reservaria no processo de renovação. Sobretudo os dirigentes que, sem serem oposição declarada à nova presidente — que será eleita sem qualquer adversário —, não se reveem totalmente na nova direção. O destino de alguns nomes que tiveram bastante destaque com Portas mas que agora podem perder algum terreno — casos de Mota Soares, Telmo Correia ou Filipe Lobo d’Ávila — animou muitas conversas na última semana.
São aguardados com expectativa os sinais de unidade e inclusão que poderão ser lidos a partir das listas para os órgãos nacionais, que só hoje deverão ficar fechadas. Dependendo desse desfecho poderão surgir listas alternativas, sobretudo para o Conselho Nacional. São os casos de alguns dirigentes de distritais que teriam apoiado Nuno Melo, se este tivesse avançado com uma candidatura à liderança, e que acabaram por se reunir na moção “Juntos pelo futuro”. Lobo d’Ávila, primeiro subscritor desta moção, dizia ontem em entrevista ao “DN” que discorda de “consensos norte-coreanos”, sublinhando que estes não são “o que o partido precisa” — uma frase que, só por si, é sintomática das tensões destes dias.
Outro caso de esperar para ver é Filipe Anacoreta Correia e o seu Movimento Alternativa e Responsabilidade — a única voz dissonante do portismo, nos últimos congressos, mas que, desta vez, decidiu não se candidatar e dar o seu apoio a Cristas. Depois de saber o que fará Cristas em retorno dessa atitude, o movimento decidirá se apresenta listas a votos.
Assunção Cristas deverá falar pelo menos por três vezes no congresso de Gondomar. As primeiras no âmbito da apresentação e discussão da sua moção de estratégia, não se esperando que fuja ao que tem sido o seu guião: propor um CDS “aberto a todos”, “com ambição”, que “fará o seu caminho, com os seus protagonistas”, de forma a “afirmar uma solução alternativa à maioria de esquerda”.