Os Protagonistas

“O PSD já não é um grande partido, o país paga um preço político elevado pelo modo como se desconstrói permanentemente”

Vai sair da política, mas a política não sai dele. Numa conversa mais biográfica, muito bem-disposto, António Costa conta parte da sua história antes, durante e depois do exercício de poder. O socialista e europeísta fala dos momentos em que a sua voz mudou o curso dos acontecimentos em Bruxelas, mas também do que deixou por fazer ‒ ou gostava de ter feito de outra maneira. Responsabilizando o PSD pela polarização, recusa que a ‘geringonça’ tenha contribuído para um ambiente crispado em 2024, nas primeiras eleições que não contarão consigo em quase dez anos. Oiça aqui o episódio de estreia do podcast da SIC Notícias ‘Os Protagonistas’

António Costa lembra-se do 25 de Abril como se fosse ontem. A mãe, jornalista, deixou-o em casa de uma amiga e foi trabalhar. “Foi o meu dia de maior reclusão”, brinca. Sem os pais, que levavam a política para dentro de casa, não teria tido “a felicidade” de compreender a dimensão da Revolução. Sem eles, “provavelmente”, não teria ido para a política.

TIAGO MIRANDA

Desdramatiza qualquer drama, não abandonando o “otimismo” que o caracteriza. “Detesto quando as pessoas que estão na política se lamuriam das dores da política”, mantém.

Conta que hesitou em voltar para o Governo, em 2005, por estar a deixar de fumar, mas que a mulher o convenceu a não desistir do risco. Paradoxalmente, admite: “Irrito-me nos momentos de tranquilidade e ganho frieza nos momentos de maior tensão”. Os incêndios de 2017, em Pedrógão Grande, são recordados como o episódio em que sentiu maior impotência enquanto primeiro-ministro.

António Costa aponta Guterres como referência na gestão de equipas ‒ sendo tão difícil lidar com saídas como com entradas ‒ e critica o maior partido da oposição por “a cada líder que chega resolver destruir tudo o que está para trás”. “O país paga um preço político elevado pelo modo como o PSD se desconstrói permanentemente”, atira. Para o socialista, o PSD já “não é um grande partido” e o agora ex-líder do PS diz não ser hipócrita: não fica “triste com isso”, apesar da circunstância “fortalecer a direita radical da Iniciativa Liberal e a extremista do Chega”.

TIAGO MIRANDA

“Eu tinha bem a noção que era o último de uma geração, que era necessário abrir caminho para gerações futuras”, contrapõe, no sentido em que integrou no seu governo vários candidatos ‒ ou possíveis candidatos ‒ à sua sucessão.

Sobre divergências de opinião, considera-as a normalidade em democracia e não se importuna com elas “desde que com respeito pela dignidade” de cada um. “Se há algo que eu acho que conseguimos nos últimos oito anos, foi despolarizar a sociedade portuguesa”, defende-se, deixando um elogio ao Presidente da República pelo contributo que deu para isso. O facto de ter discordado do modo como Marcelo Rebelo de Sousa geriu a crise política não o fez mudar de perspetiva sobre o cargo de Presidente.

TIAGO MIRANDA

Aos portugueses que não perderam a confiança em si depois do modo como o seu governo caiu deixa apenas uma palavra: “gratidão”.

António Costa é o primeiro convidado do novo podcast da SIC Notícias ‘Os Protagonistas’. De janeiro a março, Sebastião Bugalho entrevista uma série de personalidades da política nacional sobre poder. Oiça a entrevista na íntegra aqui ou em qualquer plataforma de podcasts.

A caminho das eleições, a SIC Notícias apresenta 'Os Protagonistas'. Da direita à esquerda, dos senadores aos estreantes, Sebastião Bugalho entrevista uma série de personalidades da política nacional até ao dia em que todos seremos, mais uma vez, chamados a votar. Até lá, programas serão apresentados, debates serão travados e um país percorrido. Pelo caminho, teremos realmente entendido quem são os nossos protagonistas? Se os políticos não são todos iguais, o que têm em comum entre eles? Que poder têm, não os políticos, mas os que passaram pela política? Todas as terças-feiras um novo episódio.