O Futuro do Futuro

Gustavo Cardoso: “Elon Musk está a tentar perceber como é que faz dinheiro com o Twitter. Ele é um exemplo do capitalismo comunicacional”

As redes sociais distinguem-se pela formação de oligopólios, mas hoje têm o poder de cancelar protagonistas políticos em vários países. Em Portugal não faltam exemplos de quem usa as redes sociais para saltar por cima dos jornalistas – e alguns desses casos são especialmente bem sucedidos, porque obrigam os profissionais da informação a dar notícias a partir de informação que não controlam. Em entrevista ao podcast Futuro do Futuro, Gustavo Cardoso, diretor do Observatório da Comunicação (OberCom), vê na nova rede Threads uma réplica ao Twitter, mas expurgada de política, e admite que um dia as pessoas possam estar dispostas a pagar para usar redes sociais

NUNO FOX

A desintermediação do jornalista já começou a afastar profissionais conhecidos por perguntas incómodas, mas também se presta para eliminar a má imagem de um protagonista político na opinião pública. Hoje o palavrão gerado entre laboratórios de média e cursos de jornalismo perfila-se como um objetivo a alcançar por partidos, governantes e representantes da oposição, sempre que usam as redes sociais, lembra Gustavo Cardoso, diretor do Observatório da Comunicação.

Em Portugal não faltam exemplos de quem usa as redes sociais para saltar por cima dos jornalistas – e alguns desses casos são especialmente bem sucedidos, porque obrigam os profissionais da informação a dar notícias a partir de informação que não controlam.

“Marcelo Rebelo de Sousa busca o jornalista meramente como apoio de microfone e não como pessoa para fazer perguntas”, aponta Gustavo Cardoso, durante a entrevista ao podcast Futuro do Futuro. O uso que o presidente da República fez das redes sociais não deixa de ser paradigmático, tendo em conta que não é especialmente ativo – e foi com a disseminação de autorretratos com cidadãos comuns (as selfies; depois conhecidas como “marcelfies”) que expandiu a mensagem política.

Para esta análise ao discurso presidencial tanto terá contribuído o facto de Gustavo Cardoso ser especialista em comunicação como ser membro assumido da equipa que trabalhou a candidatura de António Sampaio da Nóvoa, que perdeu a corrida a Belém em 2016 para o atual presidente.

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Apesar de não ter tido o mesmo sucesso de Marcelo Rebelo de Sousa, Rui Rio, antigo presidente do PSD e antigo presidente da Câmara do Porto, é considerado por Gustavo Cardoso como o político português que melhor usou o Twitter.

Só que o Twitter nunca movimentou grandes audiências em Portugal, ao contrário de outras redes sociais que mantêm grande capacidade de influência e mobilização, como Facebook, Whatsapp ou mesmo Instagram e TikTok.

A chegada de Elon Musk, com a compra do Twitter, e a interdição de que Donald Trump foi alvo no Twitter e no Facebook são dois sintomas de que parte do futuro do futuro das democracias de vários pontos do mundo também depende da Internet - ou do que for decidido pelos donos das maiores redes sociais.

Gustavo Cardoso recorda que Twitter e Facebook têm políticas de cancelamento de protagonistas e discursos políticos que “são imperfeitas”. E esse poder de decidir o que sai ou não para a opinião pública “não deve estar nas mãos de quem ganha dinheiro” com o que é veiculado nas próprias redes sociais.

Imagem de Gustavo Cardoso e da companheira em Moçambique
DR

No primeiro desafio que costuma ser colocado no Podcast Futuro do Futuro, Gustavo Cardoso trouxe uma fotografia tirada com a companheira em Moçambique, como forma de ilustrar o poder da comunicação para abrir horizontes.

No segundo desafio, foi escolhida uma reportagem da SIC que foi apontada como o elemento diferenciador que levou a uma viragem na opinião pública durante a luta contra as propinas universitárias nos anos 1990.


Tiago Pereira Santos

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