O Futuro do Futuro

Pedro Machado: “Acredito profundamente que vamos chegar a Marte, mas com guerra e corte com os russos vai demorar 30 a 40 anos esse passo”

O astrofísico português Pedro Machado, que viu recentemente o seu nome ser atribuído a um asteróide com 3km de diâmetro, fala sobre as mais recentes descobertas na atmosfera de Vénus, um planeta ‘gémeo’ da Terra, mas igual a 'um inferno', e também de como a guerra na Ucrânia atrasou as investigações no espaço. “Numa situação de guerra, não é suposto haver troca de tecnologia de ponta entre facções beligerantes. Acredito profundamente que vamos chegar a Marte, mas com a guerra passámos de 10, 15 anos, para 30 ou 40” de atraso nesse passo. Oiça a entrevista no podcast O futuro do futuro

Pedro Machado, investigador do Instituto de Astrofísica, já sabe o que fazer no asteróide que a União Astronómica Internacional acaba de batizar com o seu nome: “Só tenho de arranjar uma raposa e uma rosa. Toda a gente sabe, desde o Principezinho, que é isso que se leva para um asteróide”.

O plano, apresentado no podcast Futuro do Futuro, é assumidamente decalcado do mais célebre dos livros de Antoine de Saint-Exupéry, mas não deixa de dar o primeiro passo para aquilo que um dia será a grande jornada da Humanidade rumo ao Espaço e à exploração de outros planetas. E é aí que dos ensinamentos de “O Principezinho” se passa rapidamente para o “O Príncipe”, de Maquiavel.

Pedro Machado, do Instituto de Astrofísica, durante a entrevista ao podcast Futuro do Futuro
José Fernandes

A Guerra da Ucrânia já levou ao adiamento do lançamento da missão espacial Exomars, devido às sanções aplicadas à Rússia, após a invasão da Ucrânia. Possivelmente, todo o programa espacial rumo a Marte vai acabar por se ressentir. “Passámos de 10 ou 15 anos para 30 ou 40”, estima Pedro Machado sobre o tempo de espera que a humanidade terá ainda de superar até à primeira missão espacial tripulada aterrar no denominado planeta vermelho.

“Não é suposto haver troca de tecnologia de ponta entre fações beligerantes”, afirma o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Marte é um destino prioritário, mas antes disso já se prepara o regresso à Lua – e mais uma vez os recursos naturais podem ditar futuro conflitos. “Porque é que as missões chinesas vão para o pólo sul da Lua? Porque há lá gelo de água”, responde o astrofísico.

A água não só serve para beber, como também é útil para garantir oxigénio para respirar e hidrogénio como combustível. Na ciência, a água é também conhecida por funcionar como um promotor da existência de vida. E nesse estudo telescópios e sondas espaciais já viram as atenções para luas distantes como Europa, que órbita Júpiter, ou Encélado e Titã, que giram em torno de Saturno.

“Algumas das luas de Júpiter e Saturno têm imensa água, estão cobertas de gelo, e devido à força das marés mas por baixo do gelo têm temperaturas à volta dos 20 graus. E isso é compatível com a existência de vida”, sublinha os astrofísico.

José Machado, investigador do Instituto de Astrofísica, próximo do Very Large Telescope, no Chile
DR

No primeiro dos dois desafios colocados neste podcast, Pedro Machado trouxe uma foto tirada no Very Large Telescope, em Atacama, Chile.

No segundo desafio, que já implica a existência de um som, o astrofísico açoriano deu a conhecer um som frequente nos projetos de investigação levados a cabo num telescópio situado no Havai.

A vida alienígena e a chegada a Marte ainda implicam uma espera, mas o mais recente episódio do podcast Futuro do Futuro já pode ser descarregado a qualquer momento - desta vez com o sistema solar e alguns exoplanetas como cenário.

Tiago Pereira Santos

O Futuro do Futuro