Os carros ainda não são totalmente autónomos – mas, se depender das equipas que Luciano Sousa coordena na Bosch, essa meta já não deverá tardar a ser alcançada pela engenharia. E quando se alcançar esse feito, o desafio já poderá remeter exclusivamente para as questões éticas, que só os humanos podem resolver, ainda que nem sempre sejam os melhores exemplos quando estão ao volante.
“Vamos precisar de filósofos e teólogos a discutir a inteligência dos carros autónomos”, prevê o engenheiro que trabalha nos laboratórios da Bosch em Braga, durante a entrevista neste podcast Futuro do Futuro.
Os carros ainda não têm valores morais, mas terão de ser dotados de guias de referência para o que poderão ou não fazer quando estão a circular nas estradas em modo autónomo. Desse debate depende grande parte o futuro dos seguros automóveis e a atribuição de responsabilidade civil em quem está envolvido num acidente.
“Até ao nível 4”, que é o segundo nível máximo de autonomia, “é expectável o condutor estar atento à estrada”, e por isso a responsabilidade cai no humano em caso de acidente. “Mas no nível 5”, que corresponde à autonomia total, “ainda não há resposta a dar”, confirma Luciano Sousa.
O caminho pela frente será longo, mas o engenheiro da Bosch considera que “não devemos ter a ideia de mudar o código da estrada” durante os primeiros tempos de carros autónomos. “O carro vai ter de se adaptar ao nosso mundo”, acrescenta.
No primeiro desafio apresentado por este podcast, Luciano Sousa trouxe-nos uma imagem de um avião do início do século XX para ilustrar o estágio em que ainda se encontra o desenvolvimento de automóveis que conduzem sozinhos, sem intervenção humana.
Para a Bosch, que tem na indústria automóvel grande parte do negócio, o desenvolvimento de inteligência artificial que opera com base em informação de múltiplos sensores promete servir de rampa de lançamento para outros negócios e por isso o apelo da reinvenção é constante. No segundo desafio do podcast, Luciano Sousa lembrou uma rábula do grupo Gato Fedorento, que põe em causa os reais objetivos de uma empresa e dos respetivos trabalhadores.