Margarida Oliveira é pioneira na biologia molecular das plantas, mas seguramente que veria com agrado que a tratassem como melhoradora de vegetais – em especial daqueles que terão de ir parar aos pratos de oito mil milhões de seres humanos.
Só que na UE, a profissão de melhorador de vegetais tem uma viabilidade limitada, devido às leis que impedem a comercialização de vegetais geneticamente modificados, que são conhecidos como transgénicos.
Para a cientista do Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa (ITQB), esse tipo de interdição já não se justifica. E até pode condenar à fome uma parte da população mundial.
“Não se trata de preconceito, mas sim de interesses económicos que têm sido promovidos por muita propaganda que depois influencia a opinião pública”, acusa Margarida Oliveira, em relação aos motivos que considera que levaram à interdição de vegetais geneticamente modificados.
Sobre a produção e comercialização de transgénicos não tem dúvidas em dizer que "é importante, e é essencial para a nossa sobrevivência”. Até porque já começam a surgir casos em que os agricultores não conseguem fazer frente a pragas e doenças com o recurso aos químicos.
Para a antiga vice-diretora do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), a UE tem vindo “rejeitar produtos que são melhorados, em função da técnica usada para os obter” e não em função dos resultados produzidos. E, em paralelo, dá como exemplo as espécies produzidas por mutagénese, que produziram igualmente alterações no genoma de plantas através de radiações e químicos de forma “aleatória” e que não são alvo de regulação ou impedimento, ou sequer análise da qualidade dos produtos.
Para Margarida Oliveira não restam dúvidas de que a mutagénese também é um processo de engenharia genética – mas que nunca foi alvo de qualquer outra interdição.
Recordando o potencial da “revolução verde” que permitiu aumentar safras em todo o mundo no século XX, a cientista recorda que muitos vegetais que consumimos eram pouco atrativos, intragáveis ou indigestos caso não tivessem sido alvo de alteração genética, por cruzamento e seleção levada a cabo pelo humanos. E por isso, num dos desafios apresentados pelo Podcast Futuro do Futuro, a investigadora trouxe uma imagem captada “à lupa” dos primeiros tempos de vida da planta do arroz, em ambiente laboratorial.
No segundo desafio, a cientista trouxe o som do vento a soprar sobre um arrozal – num referência a um vegetal que tem vindo a ser estudado com minúcia no ITQB.
Em Bruxelas, há quem garanta que a legislação dos transgénicos está para mudar em breve. Margarida Oliveira diz que perdeu a fé nas leis da Comissão Europeia, mas continua a achar-se uma “otimista”. Será desta que a interdição cai.
Antes disso, aproveite para ouvir mais este episódio do Podcast Futuro do Futuro.
Hugo Séneca conversa com mentes brilhantes de diversas áreas sobre o admirável mundo novo que a tecnologia nos reserva. Uma janela aberta para as grandes inovações destes e dos próximos tempos.