O Futuro do Futuro

“Há um risco de hiperconcentração dos grandes modelos Inteligência Artificial na Microsoft e na Google”, avisa António Branco

António Branco coordenou o primeiro esforço para desenvolver Inteligência Artificial Generativa capaz de falar português e gerar uma alternativa viável e gratuita às grandes marcas tecnológicas. Sobre a futura da regulação da UE, diz que corre o risco de pôr os consumidores nas mãos de quem já tem os sistemas mais desenvolvidos

Albertina e GPT-PT são os dois primeiros membros do clube de Grandes Modelos de Linguagem que dominam o português, tanto na variante europeia como na variante brasileira. António Branco, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), e coordenador de desenvolvimento dos dois módulos que fazem coisas comparáveis à tecnologia que suporta o famoso ChatGPT, recorda que é chegada a hora de usar o engenho e as tecnologias para salvaguardar a soberania nacional.

“Corremos o risco de vermos uma hiperconcentração destes serviços dos grandes modelos de linguagem nas mãos nas duas grandes tecnológicas que os conseguem fornecer e que são a Microsoft, via OpenAI, e a Microsoft, através da DeepMind e de outras marcas que detém”, avisa o cientistas da computação, que tem assegurado, a nível internacional, a liderança da Associação de Recursos Linguísticos.

José Fernandes

É precisamente para garantir alternativas às grandes tecnológicas que que Albertina e GPT-PT vão ser disponibilizados livremente ao público sem custos e com a possibilidade de acesso ao código. António Branco diz mesmo que é a disseminação da Inteligência Artificial Generativa que pode evitar uma hiperconcentração que pode levar a que conversas e textos que são produzidos no dia-a-dia acabem por ir parar aos servidores de duas ou três empresas que passam a ter “um poder gigantesco”, pois já têm sistemas que analisam o que os humanos dizem.

Em contrapartida, quem se sente inspirado com a era dos comandos de voz, possivelmente vai ficar entusiasmado com as previsões que dão como possível o abandono do rato e do teclado em muitas situações.

José Fernandes

Sobre a regulação que tem vindo a ser trabalhada pela Comissão Europeia para a Inteligência Artificial, a opinião é mais pessimista, caso os modelos de linguagem sejam colocados na classe de risco máximo. “Por querer de facto proteger os cidadãos, a Regulação da Comissão Europeia está, na verdade, a entregá-los de bandeja às duas grandes tecnológicas”.

Nos dois desafios deixados durante a entrevista deste podcast Futuro do Futuro, António Branco deixou uma imagem produzida pelo sistema Dall-e, que tem uma explicação curiosa.

António Branco surge numa imagem produzida pelo sistema Dall-e que usou um conhecido filme como inspiração
DR:

No desafio sonoro, o professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Lisboa, optou por uma viagem aos anos 1970. A primeira faixa do álbum Oxygene, de Jean Michel Jarre foi a escolhida.

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