João Maria formou “Último Andar”, com os também atores Francisco Vistas e Jaime Baeta. Um grupo que passou dos sketches nas redes sociais para a televisão, com uma série chamada “A Série”, estreada em 2022, na RTP2, e disponível na RTP Play. A narrativa segue três atores desconhecidos que sonham criar uma série. Uma comédia com drama, que retrata as dificuldades de um meio que lhes coloca sempre novos obstáculos. No início deste ano, juntou-se a Salvador Martinha para escrever e interpretar “Plim - Passa Lá na Agência”. A história de uma agência que luta por mais seguidores e influencers. Uma peça de teatro por temporadas, cuja primeira esgotou salas pelo país no início do ano e a segunda está neste momento a ser escrita.
Não é uma coisa muito usual em atores, que tenham também um papel na parte da criação dos projetos. Como é que geres a expetativa que tens em fazer parte da criação, que às vezes pode não ser correspondida nos trabalhos que te apresentam?
A minha decisão em ser argumentista veio do desespero. Eu estudei na ACT - Escola de Actores. Durante os três anos ouvia sempre os próprios professores a dizer que esta profissão é difícil. Que no fundo é a realidade, eles estavam a transmitir-nos a realidade. E é verdade, numa turma de trinta alunos, vingam se calhar dois, três. Raramente mais. E então tomei essa decisão de querer estar numa posição em que possa tomar decisões. Onde eu possa escolher com quem trabalhar em vez de ser escolhido. Se for escolhido, ótimo. Já fiquei em alguns castings, mas no início ficava em muito poucos, tinha pouca experiência. Sempre pensei que tinha de estar numa posição em que possa escolher com quem quero trabalhar, então tenho que ter aqui uma outra ferramenta. Decidi aprender a escrever, como argumentista, estive nos Estados Unidos a aprender um bocado como escrever uma narrativa.
Em “A Série” espelham a realidade através da ficção. É “meta”, porque são três atores desconhecidos a tentar criar uma série para vender à RTP. A certa altura os diretores querem que os atores sejam trocados por “youtubers” conhecidos. Isso é a realidade do meio?
Boa pergunta. Isto na altura foi meio ficcionado, mas é um bocado verdade. As pessoas já são um bocado escolhidas pelos seguidores que têm.
Que é uma das frases da série.
Sim. Aquela coisa do “Se eu quiser ser ator tenho de ter seguidores”
Isso é uma afirmação verdadeira então?
Sim, pelo menos nós como atores às vezes sentimos isso. Não sei se de forma justa ou injusta. Nós para expormos as coisas que expusemos na série tentamos ir buscar um bocado da comédia, em que a proposta é efetivamente eles serem substituídos por “youtubers”. A minha questão é: “Será que num futuro próximo isso pode acontecer?” Eu não sei, nem sei se aconteceu ou não, não fiz essa pesquisa, mas nós como aores sentimos um bocado que o nosso papel se calhar está a terminar. Parece que não é preciso seres um ator para seres ator. Foi um bocado esse ângulo que nós explorámos. Quando surgiu a proposta, pensámos em escrever a série sobre o que nós conhecemos melhor do que ninguém. Portanto falámos das nossas vidas, sobre este processo de ser ator, destas lutas, destas dificuldades todas. E há muita coisa que é verdade, algumas coisas que não são bem assim, mas isso deixamos o público decidir o que é verdade e o que não é.
Gustavo Carvalho faz perguntas sobre comédia. O convidado responde. Sorriem… é humor à primeira vista. Oiça aqui mais episódios: