Nasceu a 28 de abril, em Lisboa. É filho único, o pai foi piloto da TAP e a mãe era assistente de bordo. Vivia na Rua dos Soeiros, perto do Estádio da Luz. Em criança, vestia-se à Benfica, com os equipamentos que a mãe bordava à mão, e jogava futebol de manhã à noite, "até deixar de ver a bola.”
As férias de Verão eram passadas com a avó materna, na casa de campo da família, em Colares. “A minha avó foi decisiva na minha vida. Era um livro de auto-ajuda ao contrário." A avó Adélia nasceu em 1920, em Paredes de Coura, na pequena aldeia de São Martinho de Coura. Tinha a terceira classe e trabalhava no campo. Depois de casar emigrou para o Brasil. Mais tarde regressou a Portugal, viúva, e com as duas filhas.
A infância foi “despreocupada”, mas “regrada”. Em casa havia livros e sempre gostou de ler - em pequeno lia para a avó. Desde sempre sentiu uma “inclinação” para o humor e “investia tempo a pensar em como conseguir fazer rir os outros.”
Nasceu numa altura quente do país, mas - ao contrário da avó - não viveu “nem um minuto” em ditadura. Os pais votavam centro-esquerda e, na casa da avó, a “única vez” que ouvia falar de política era quando faltava a luz, à hora da novela - “ela culpava os comunistas.”
Andou sempre em escolas católicas. Licenciou-se em Jornalismo, estagiou no Jornal de Letras e, mais tarde, começou a escrever para “atores a sério.”
Aos 24 anos - “sem nenhuma aspiração política” - inscreveu-se no PCP, depois de uma grande derrota do partido numas eleições autárquicas. “A minha mãe contou à minha avó que eu me tinha feito militante do PCP. Ela fez silêncio e respondeu: ‘mas ele é um bom rapaz’. O que é falso.”
Pelo meio apareceram os “Gato Fedorento” e lá se fez. Acredita que a palavra “sorte” define a sua vida e começa a “suar” quando pensa "na possibilidade de arranjar um emprego a sério.”
É casado e tem duas filhas. A mais velha vive em Inglaterra e a mais nova, fez agora 18 anos, está nos Estados Unidos. “Já não são as crianças a quem lia as histórias na cama. Agora ouvem o podcast do pai antes de dormir.”
Ricardo Araújo Pereira é um dos humoristas mais reconhecidos do país e é o convidado do novo episódio do Geração 70. Nesta conversa com Bernardo Ferrão, fala da situação atual do país e da crise política em que vivemos. Alerta para os “ganhos” da extrema-direita e considera “imperdoável” que o Chega “esfregue as mãos de contente”, por causa de um Governo que “já estava minado.”
Sobre os casos que envolvem o ainda primeiro-ministro, espera que as “suspeitas do Ministério Público sejam suficientemente fortes”, para justificar a queda de um Governo de maioria absoluta.
E a relação com o Presidente da República e a queixa-crime de que foi alvo? “Os meus pais disseram-me: ‘realmente, abusaste’.”