A Beleza das Pequenas Coisas

Marco Martins (parte 1): “Interessa-me a arte que questiona, que dá voz ao outro, pois há pouco espaço para a reflexão na vida comum”

É um dos criadores mais relevantes da nossa ficção e há muito que leva aos palcos de teatro e ao grande ecrã as histórias das pessoas que não têm voz. Autor de filmes como “Alice”, “São Jorge” ou, o mais recente, ­“Great Yarmouth — Provisional Figures”, as suas obras partem de muita pesquisa e recolha documental antes de serem filmadas ou encenadas. E nesse processo passou a ter o hábito de trabalhar também com ‘não atores’, que contam as suas vidas ou as da sua comunidade. Como aconteceu nas suas últimas peças, “Pêndulo”, num elenco feito com trabalhadoras imigrantes precárias, e “Blooming”, representado por crian­ças institucionalizadas. Num confronto entre arte e vida, vida e arte. Ouçam-no aqui nesta primeira parte da conversa com Bernardo Mendonça

Marco Martins é um dos criadores mais interessantes e relevantes da nossa ficção e há muito que leva ao palco e ao grande ecrã as histórias das pessoas que não têm voz - as invisíveis, as ignoradas, as mal tratadas, as que ficam sempre fora do retrato. E, através das suas criações, no teatro e no cinema, confronta-nos com as realidades perturbadoras dessas comunidades frágeis - ditas minoritárias - que estão na margem, usando a sua arte para denunciar e fazer-nos refletir sobre a condição humana - e no que há nela de mais belo e grotesco.

Matilde Fieschi

Autor de filmes como “Alice” - que ganhou o prémio de Melhor Filme na Quinzena de Realizadores de Cannes, “São Jorge” ou o mais recente “Great Yarmouth - Provisional Figures”, sobre a mão de obra sazonal de imigrantes portugueses para tarefas que os britânicos não querem fazer, Marco filma e encena acima de tudo para lançar as grandes questões que ainda não têm as respostas suficientes. E as suas criações partem sempre de muita pesquisa e recolha documental antes de se tornarem ficção.

Nesse processo passou a ser hábito a mistura no elenco de atores e não atores. Num confronto entre arte e vida, vida e arte. A conversa começa precisamente por aí. Sobre o que o move a fazê-lo.

Matilde Fieschi

Importa dar nota que “Alice” e “São Jorge” foram ambos candidatos à nomeação dos Óscares para Melhor Filme Estrangeiro.

E que na televisão Marco Martins foi o realizador da série “Sara”, estreada na RTP2, que terá sido mal amada nos bastidores de uma certa direcção de programas, mas que passou a ser uma das melhores criações da última década, uma sátira ao meio do audiovisual, protagonizada por uma das suas atrizes de eleição, Beatriz Batarda. Marco recorda esse momento e conta o que mais aprendeu nesse processo feito de muitas alegrias e contra tempos.

No teatro, enquanto diretor artístico da plataforma “Arena Ensemble” já assinou mais de uma dezenas espetáculos como “As Criadas”, “Perfil Perdido”, “Selvagem” (galardoado com o ‘Globo de Ouro’ para melhor peça de teatro em 2022) ou os mais recentes “Pêndulo” e “Blooming”.

Matilde Fieschi

No “Pêndulo” trabalhou com um grupo de mulheres imigrantes, cuidadoras e empregadas domésticas e, a partir dos seus testemunhos e relatos, construiu um espectáculo que não é biográfico, mas sim uma história coletiva destas trabalhadoras que fazem em Portugal os trabalhos que ninguém quer. Muitas delas a cuidarem e a darem afeto aos nossos mais velhos. Uma peça que teve uma longa carreira internacional em Itália, França, Croácia, Polónia, ou Alemanha.

Matilde Fieschi

E este ano com “Blooming” - a partir de um projecto europeu para as comemorações das comemorações dos 100 Anos de Ulysses, de James Joyce - criou um espectáculo com crianças de instituições de acolhimento do Barreiro: uma reflexão sobre a vida numa instituição, a procura de um lugar de abrigo e o passado e o futuro que cada uma delas recorda ou imagina.

A arte pode ser o caminho para a cura de muitas dessas feridas? É-lhe perguntado também.

Matilde Fieschi

Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de Matilde Fieschi. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.

A segunda parte deste episódio será lançada na manhã deste sábado. Boas escutas!

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