Joana tem questionado ao longo dos últimos trinta anos a sociedade de consumo, a identidade coletiva, o estatuto da mulher e a desigualdade de género na sociedade. Com humor e ironia, mas também com ambiguidade e paradoxo. Quem não se recorda do célebre sapato de salto alto gigante feito com tachos e panelas?
E tanto a artista celebra o fado da Amália como o coração de Viana, o galo de Barcelos, a cerâmica de Bordalo e da Viúva Lamego ou o crochet do Pico dando-lhes novas leituras e escalas.
Há sempre muitas camadas na sua obra e um factor lúdico e de surpresa e que nos arranca tantas vezes um “uau” pela monumentalidade e originalidade das suas peças pensadas por si e concebidas por muitas, muitas mãos, as mãos mágicas e preciosas de cerca de 60 pessoas que fazem parte sua equipa, de várias áreas, técnicas e origens. Dos bordados, à serralharia, eletricidade ou arquitetura. A sua arte é sem fronteiras e a sua equipa também.
Um dos momentos mais marcantes deste seu caminho aconteceu em 2012, quando Joana fez uma grande exposição no Palácio de Versalhes, nos arredores de Paris, tornando-se a mais jovem artista e a primeira mulher a fazê-lo. Joana Vasconcelos tem-se habituado a fazer tudo em grande e esta sua exposição terá sido a mais visitada em França nos últimos 50 anos, com um recorde de 1,6 milhões de visitantes. Neste episódio, a artista plástica conta como a sua peça “A Noiva”, obra fulcral do seu percurso, foi censurada, o que a levou quase a desistir da exposição.
A originalidade e a surpresa são ingredientes constantes nas suas criações. Em 2013, ao leme do cacilheiro “Trafaria Praia”, representou Portugal com o primeiro pavilhão flutuante da Bienal de Veneza. E em 2018 tornou-se na primeira artista portuguesa a ter uma exposição individual no Guggenheim de Bilbau.
Em 2023 concretizou a honra de expor nas Galerias Uffizi e no Palácio Pitti, em Florença, ao lado dos mestres clássicos Leonardo Da Vinci, Michelangelo ou Caravaggio. E fez um monumental “Bolo de Noiva” para os jardins de Waddesdon Manor, que foi considerada pelo jornal The Guardian “a primeira obra-prima de arte genuinamente alegre do século 21” e que figurou no segundo lugar da “melhor arte e arquitetura” de 2023.
Joana define esta obra “entre a pastelaria e a arquitetura”, um edifício com 12 metros de altura, todo coberto com peças de cerâmica da fábrica Viúva Lamego, que vendeu por 5 milhões de euros a um coleccionador inglês. Mas o que leva Joana Vasconcelos a insistir em símbolos do matrimónio, numa época em que essa instituição está esvaziada? Joana responde neste podcast.
As suas peças continuam a marcar presença em todo o mundo e atualmente boa parte delas pode ser visitada na exposição “Plug-in”, no museu Maat, em Lisboa, que conta com uma “finissage” de 12 horas no dia 6 de abril, em jeito de última chamada para quem ainda não visitou, e que termina já dia 8 de abril.
Distinguida com mais de 30 prémios, em 2009 recebeu o grau de Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique pela Presidência da República Portuguesa e tornou-se Oficial da Ordem das Artes e Letras pelo Ministério da Cultura Francês em 2022.
Admirada e agraciada por muitos, mal amada e criticada por tantos outros, Joana Vasconcelos não é de consensos, mas não deixa ninguém indiferente.
O facto de ser uma mulher com muito sucesso, poder e visibilidade internacional no mundo da arte - e se ter tornado conhecida primeiro lá fora e depois cá dentro - contribuiu para ser olhada de lado pelos pares? E por se afirmar além de artista, empresária e mulher de negócios é outra das razões para os olhares de desagrado e desconfiança sobre si?
Como tem sido a sua relação com os homens e com um mundo que vê com desconfiança mulheres que lideram grandes estruturas e obras monumentais?
Num mundo em guerra e em confronto, o que pode a arte? “É na arte que a humanidade se ultrapassa definitivamente”, afirmava a escritora feminista Simone de Beauvoir.
E Fernando Pessoa afirmou, por sua vez: “O fim da arte inferior é agradar, o fim da arte média é elevar, o fim da arte superior é libertar.” Joana é da mesma opinião? Qual o fim da sua arte? E como se relaciona com a falha, o erro, a frustração? Quando se cria sempre em grande, falha-se na mesma medida? Alguma vez terá falhado em grande? Joana responde a isto tudo e muito mais na primeira parte deste podcast. E ainda é surpreendida pelas participações do diretor do MAAT, João Pinheiranda e da amiga e empresária Catarina Portas.
Na segunda parte deste podcast, Joana Vasconcelos começa por responder às questões colocadas pela sua amiga e empresária Catarina Portas. Fala da diversidade de pessoas e das muitas mãos mágicas que trabalham nas suas peças, de várias origens e nacionalidades. E conta como Mohamed, um refugiado sírio, costureiro de profissão, passou a fazer parte da sua equipa.
Joana fala ainda da sua relação com a fé e a astrologia. E explica em pormenor o projeto “Corpo Infinito”, que coexiste no seu ateliê, de acesso gratuito para toda a sua equipa, com várias atividades e terapias de bem estar físico e mental.
A artista plástica partilha também quais as músicas que andam na sua cabeça, as próximas obras que está a conceber e em que consiste o seu AMA, um dos seus grandes projetos sonhados, misto de museu e atelier, que deverá abrir as portas a todas as pessoas que queiram visitar o seu espaço de criação. Boas escutas!
Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de Matilde Fieschi. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.
Até para a semana e boas escutas!