Durante uma dúzia de anos, pelo menos, dez bancos a actuar em Portugal — ou seja, todo o sistema bancário nacional, incluindo o banco público — trocaram entre si, e numa base habitual, informação classificada sobre spreads, taxas de juro e política de empréstimos a particulares e empresas. Aquilo que imaginaríamos ser um segredo concorrencial fechado a sete chaves era afinal uma descarada concertação entre supostos concorrentes, tendo como objectivo final o prejuízo dos seus clientes, impossibilitados de poderem escolher livremente o banco que melhores condições lhes desse. Esta história deveria encher de vergonha todos os banqueiros que temos e que tanto gostam de nos olhar do alto: eis aqui um sector determinante para a economia de um país, que, quando atravessa dificuldades, já várias vezes teve de ser socorrido com o dinheiro dos contribuintes, mas que, quando prospera, não dispensa a batota e a supressão ilegal do risco. Apurados os factos, o “cartel da banca”, como justamente ficou conhecido, foi condenado em quase simbólicos 225 milhões de multa pelo Tribunal do Comércio de Santarém, decisão revertida pelo Tribunal da Relação de Lisboa e depois confirmada pelo Constitucional, com fundamento no habitual manto diáfano da prescrição, que entre nós se confunde com absolvição, assim como acusação se confunde com condenação.
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Os exemplos que vêm de cima
Indiferentes ao que se passa do outro lado do mundo, incapazes de entenderem que nada será igual ou previsível enquanto Trump estiver na Casa Branca, os dirigentes europeus prosseguiram nos seus monólogos de Guerra Fria e verdades tidas como inquestionáveis