É impressionante o poder da imagem mediada. Por vários dias, as televisões transmitiram uma cena de violência doméstica, em que um bombeiro de Machico espancava a mulher à frente do filho de nove anos, que suplicava pelo fim da tortura de que também ele era vítima. Este vídeo, captado graças a uma câmara de segurança, retrata uma cena quotidiana. Uma cena banal num país que passa o tempo a debater o choque com culturas imigrantes que não respeitam as mulheres. O padrão é o de sempre: um homem que ficou “cego” depois de ler umas mensagens e está profundamente arrependido, até voltar a ficar cego.
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Violência doméstica: o crime sem “outro”
A violência doméstica não nos apanha desprevenidos, na rua. Não nos assusta. E não tem classe, credo, cultura ou cor. De tão democrática, conseguimos integrá-la, ignorando as suas vítimas, que tantas vezes nos são próximas. Desde que fique invisível. Quando é mostrado, o país com pouco crime e que fala tanto dele, com tanta violência doméstica e que tão pouco fala dela, olha-se ao espelho