Exclusivo

Opinião

O estranho caso do bullying que fez rir toda a gente

O que se passou no concerto dos Coldplay é uma triste vergonha, sim, mas não do homem e mulher filmados contra vontade

Estou cada vez mais curioso: o que pensará de mim o algoritmo? Provavelmente, que tomo alguma coisa pouco recomendável, que sofro de maleitas por diagnosticar. Em suma, que na falta de saber exactamente quem sou ou como me classificar trata de me encher o ecrã com tudo e mais alguma coisa e sobretudo com o seu contrário. Suponho que ao fazer a sua aritmética robótica não consiga, até hoje, decidir se sou de esquerda ou de direita, ou que tipo de música aprecio mais, ou se sou mais do romance ou do ensaio, ou que hobby me distrai, ou que desporto, afinal, me enche as medidas de espectador. Não é o único, o algoritmo. Também nos convívios que tive vida adentro, cada vez menos e com menos pessoas (das reais, as que existem, não contem comigo para diálogos patetas com máquinas), de vez em quando, aqui e ali, olham para mim na dúvida. As gavetas que me propõem são por vezes quadradas, e eu sinto-me amiúde triângulo. Fujo, acima de tudo, do que me apresentam como comprovado por uma maioria, a que tenho de me vergar. Não sou superior, ou inferior, ou dentro ou fora da caixa (expressão que me irrita quase tanto como a zona de conforto). Sou apenas um homem sem paciência para multidões, o que já se adivinhava no miúdo que fui.