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Opinião

5% em defesa é perfeitamente defensável

Cada cozinha é uma potencial messe; cada despensa, um hipotético paiol. Ter uma casa que de vez em quando pode ser usada pela NATO é melhor do que não ter casa nenhuma

Ainda sou do tempo em que o nosso objectivo era aumentar o orçamento de Defesa para 2% do PIB. No entanto, ao contrário do que costuma acontecer quando alguém começa uma frase com as palavras “ainda sou do tempo”, desta vez o desabafo não denuncia a minha idade avançada. Quando recordo o tempo em que se pretendia subir os gastos em defesa para 2% do PIB refiro-me a Maio deste ano. No fim de Junho, porém, o objetivo passou a ser 5%. Foi tudo bastante rápido. Ainda estávamos a tentar perceber as contas que nos tinham levado a concluir que 2% era um número sensato. Mas depois Donald Trump foi à cimeira da NATO sugerir 5%, e os 32 Estados-membros concordaram que era uma excelente ideia. Enfim, nem todos. Os Estados Unidos, por exemplo, já avisaram que vão continuar a gastar menos de 3,5%. Mas os outros comprometeram-se com a meta dos 5%. Procurei na imprensa a justificação para o objectivo ter passado a ser 5% (em vez de 4,5%, ou 3,75%, ou 2,97%), mas não encontrei. Fiquei apenas com a sensação de que se trata de uma das ideias mais pacifistas de sempre. Em Maio, havia um relativo consenso relativamente ao facto de a meta dos 2% exigir a Portugal um esforço muito difícil. E se 2% é muito difícil, isso significa que 5% é impossível. Ora, perante uma tarefa muito difícil, o nosso país teria de se empenhar a sério. Mas quando o que se pede é impossível, parece-me que ficamos desobrigados sequer de tentar.