No Camboja, o Coronel Kurtz, presumidamente louco e confessadamente assassino, repetia, através do seu alter ego Marlon Brando, “o horror, o horror!”. O horror era a volúpia demencial de exercer o imenso poder de matar livremente guerrilheiros ou civis do inimigo, num deboche de morte e destruição da qual se ausentara qualquer noção de decência ou de humanidade. Por isso, os seus superiores enviaram aos confins da selva o Capitão Willard (Martin Sheen), com a missão secreta de o assassinar. Este é o enredo de “Apocalypse Now”, o inultrapassável filme de Francis Ford Coppola, inspirado no romance “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad. Datado de 1979, quatro anos depois do fim da guerra que os americanos travaram na Indochina, o filme é um dos vários que reflectem o trauma que uma guerra injusta e desumana deixou nas consciências americanas. Porque eram outros tempos e outras consciências e porque o jornalismo cumpriu a sua missão de contar aos americanos o que andavam os seus filhos a fazer em terra alheia: uma só fotografia de uma criança vietnamita nua e semiqueimada por napalm, correndo numa estrada enquanto em fundo as chamas varriam uma aldeia, chegou para fazer despertar a opinião pública americana e obrigar Nixon a negociar a rendição.
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O horror e a indiferença
À nossa vista, perante o nosso olhar e diariamente há ano e meio, nós assistimos ao assassínio de 53.000 palestinianos, dos quais um terço eram crianças