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Opinião

O esgotado

Os homens e as mulheres de Beckett estão semivivos. Mantêm os sinais vitais, mas perderam a vitalidade

O esgotado [“épuisé”] é muito mais do que o cansado [“fatigué”], escreve Gilles Deleuze no posfácio de uma colecção de curtas peças televisivas de Beckett, exercícios menos dramatúrgicos do que coreográficos. “O cansado”, continua, “já não dispõe de nenhuma possibilidade (subjectiva): não pode por isso realizar a mais pequena possibilidade (objectiva). Mas esta última perdura, porque nunca realizamos tudo que é possível (...). O cansado apenas esgotou a realização, enquanto o esgotado esgotou todo o possível. O cansado já não consegue realizar nada, mas o esgotado já nem consegue vislumbrar possibilidade alguma [“possibiliser”]”.