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Opinião

Um novo Médio Oriente?

Aos 600 dias da guerra Hamas/Israel, o equilíbrio de poderes no Médio Oriente está a mudar e pode vir aí uma nova configuração geopolítica

Comecemos por Israel. A pouco mais de um ano de novas eleições, outubro de 2026, Netanyahu luta pela sobrevivência política, ocupando Gaza, usando a fome e a sede como armas. Pela primeira vez a comunidade internacional está a reagir com muita dureza, acusando-o de genocídio, enquanto António Costa e o novo chanceler alemão culpam Israel por usar violência desproporcionada contra civis na Faixa de Gaza. Também na Cisjordânia os colonatos não param de aumentar, satisfazendo a extrema-direita que quer Israel do Jordão até ao Mar. No Dia de Jerusalém, Ben Gvir liderou mais de dois mil ultranacio­nalistas em mais um passeio à Esplanada das Mesquitas, lembrando o velho sonho da reconstrução do 3º Templo, que significa a destruição do 3º lugar mais sagrado do Islão, a Mesquita de Al-Aqsa. Tem aqui um papel determinante a Arábia Saudita, que juntamente com a França convidaram o Brasil e o Senegal para presidir ao grupo de trabalho na ONU para a Conferência Internacional para a Solução Pacífica da Questão da Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados. Netanyahu já deixou bem claro que se houver reconhecimento da Palestina irá anexar a Cisjordânia. Parece evidente que nem o Hamas nem este Governo de extrema-direita de Israel são o caminho para a solução de dois Estados, mas a posição de Trump, será aqui decisiva. É certo que se tem distanciado de Netanyahu, ignorando-o na sua visita ao Médio Oriente, negociando diretamente com o Hamas a libertação do refém norte-americano e recebendo Al-Shar’a, o Presidente interino da Síria, que tem a mesma filiação ideológica do Hamas, Irmandade Muçulmana. Mas fica em aberto se quer partilhar o gás e petróleo de Gaza com Israel, já que para Trump tudo é transacional. Se o ataque de 7 de outubro serviu para colocar a questão da Palestina na ordem do dia, parece cada vez mais possível a solução dos dois Estados, graças à pressão internacional. Caso não se consiga, carregaremos para gerações futuras o peso de mais um genocídio, sem nada termos feito!