Cresci numa época em que grande parte do prazer de brincar e aprender se exercia de olhos fechados, a imaginar. Era o que se usava porque era o que havia. Cada geração funciona com as ferramentas de que dispõe. E esta parca oferta de grandes e claros estímulos foi, durante séculos, a razão da força da literatura. Ler era viajar quieto, sentir o inédito, cheirar o desconhecido, ver o inalcançável. Ler um capítulo e depois fechar os olhos. Bastava isto para acontecer, não sabíamos bem o quê, uma explosão de partículas cá dentro, uma proteína, um incêndio de células. Crescemos a saber que a imaginação faz voar e que a imaginação precisa de alimento.
Exclusivo
Início do fim da criação
Pensar e imaginar para depois criar? Não, não, é uma fastidiosa tarefa de que a inteligência artificial promete livrar-nos