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Opinião

“Estou farto!”

Não devemos desprezar o poder imersivo das redes. Elas determinam o estado de espírito com que as pessoas olham para problemas reais. Isto não serve para ignorar as razões do “estou farto” que se expressa no voto. Serve para sabermos dos limites da eficácia das nossas respostas

A SIC fez um vox populi em Sintra para perceber como o Chega venceu o segundo concelho mais populoso do país. A resposta de quase todos os inquiridos foi: “Estou farto!” Depois desfiavam queixas que, tirando a imigração e a habitação, são de sempre e poderiam levar ao voto em qualquer outro partido. Sabemos que este é o tempo da deceção. Nunca se prometeu tanto para esperar tão pouco. E nunca os instrumentos de revolta foram tão atomizados. As pessoas têm a sensação justificada de não ter poder na mudança. Por isso usei, há uns meses, a imagem de abanar uma árvore que se sabe que não cairá. Ainda assim, foi mais gente às urnas só para votar num partido que sabem (as pessoas não são parvas) ser ausente de proposta.