Num mundo onde crises políticas e conflitos armados surgem como ameaças à estabilidade global, a diplomacia multilateral mantém-se como um dos pilares fulcrais da convivência entre nações. É neste contexto que as sanções e os embargos emergem como ferramentas centrais da diplomacia moderna: não disparam tiros, mas têm impacto direto nas decisões dos Estados. São, afinal, um lembrete firme de que há limites.
As sanções não são apenas listas ou medidas económicas. São, sobretudo, um reflexo do esforço coletivo da comunidade internacional para preservar a paz e proteger os direitos humanos. Seja através das Nações Unidas, da União Europeia ou de acordos bilaterais entre nações, a aplicação destas medidas exige coordenação, legitimidade e, acima de tudo, um profundo sentido de responsabilidade.
Neste cenário, o multilateralismo é essencial. Pois, mais do que punir, o objetivo das sanções é pressionar por mudanças de comportamento, por vezes em contextos extremamente sensíveis como programas nucleares ilegais, violações sistemáticas dos direitos humanos ou invasões territoriais.
Mas enquanto as decisões são tomadas ao mais alto nível, o impacto repercute-se também no setor financeiro. Para os bancos e instituições financeiras, a conformidade com as sanções não é opcional – é regulatória/obrigatória. O não cumprimento pode não só implicar multas avultadas como manchar a reputação de uma organização num piscar de olhos. Por isso, departamentos especializados como o de Sanctions & Embargoes (S&E) desempenham um papel vital na engrenagem de um sistema financeiro ético, responsável e acima de tudo seguro , tanto para nós como para os nossos clientes.
A realidade de S&E é complexa e em constante mutação. O dia a dia envolve a monitorização permanente das listas de sanções internacionais, a verificação rigorosa de transações e clientes, e a interação com entidades reguladoras sempre que necessário. Tudo isto apoiado por tecnologia especializada, essencial para detetar automaticamente potenciais riscos e garantir a rastreabilidade de todas as ações.
Nos últimos anos, momentos geopolíticos marcantes – como os conflitos no Leste Europeu ou as tensões no Médio Oriente – obrigaram estas equipas a atuar com rapidez e precisão. A escalada de sanções após a invasão da Ucrânia, por exemplo, traduziu-se num desafio operacional e técnico imenso para os bancos que operam a nível internacional. Ter de cumprir com diferentes regulamentações, por vezes contraditórias, exige não apenas rigor, mas também resiliência e agilidade.
E se o presente já é exigente, o futuro não promete abrandar. Espera-se que o papel das equipas de S&E cresça, alimentado por uma maior digitalização do setor financeiro, pela complexidade crescente das cadeias de transações internacionais e por um contexto geopolítico em constante mutação. A Inteligência Artificial e o Machine Learning serão, certamente, aliados importantes – mas nunca substituirão a análise humana, sobretudo quando se trata de interpretar contextos ou tomar decisões sensíveis.
As sanções e embargos são, afinal, uma expressão clara do poder da diplomacia multilateral: mostram que, mesmo num mundo de tensões, ainda existem mecanismos coletivos capazes de agir com firmeza e propósito. E enquanto os grandes debates se desenrolam nas salas de decisão política, são as equipas operacionais – como a de S&E – que garantem, todos os dias, que esses compromissos se transformam em ação concreta.
Neste Dia Internacional do Multilateralismo e da Diplomacia para a Paz, vale lembrar que a paz nem sempre se constrói com tratados ou cimeiras. Às vezes, constrói-se com vigilância, com tecnologia e, sobretudo, com o compromisso silencioso, mas inabalável daqueles que, nos bastidores, fazem cumprir as regras do jogo.