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Opinião

Uma questão de fé

Não deixa de ser paradoxal que vivamos perante o desafio de lidar com uma quantidade avassaladora de informação e não disponhamos de informação fidedigna para debater e definir medidas de política

Desengane-se quem achar que governar é tarefa simples. A elaboração de políticas públicas que são para ser, de facto, implementadas, é um exercício complexo agravado pela qualidade da informação, nem sempre disponível, que serve de base a esse propósito. Não deixa de ser paradoxal que vivamos perante o desafio de lidar com uma quantidade avassaladora de informação e, simultaneamente, não disponhamos de informação fidedigna para debater e definir medidas de política. O atual Governo tem sido profícuo em ilustrações desta realidade. Em novembro de 2024, era admitido o erro no número de alunos sem aulas divulgado pela tutela, suscitando uma auditoria com vista à sua correção. Em fevereiro de 2025, noticiavam-se discrepâncias entre o número de utentes sem médico de família apresentado pelo Governo e o número oficial do SNS. Já em tempo de campanha, os números relativamente aos imigrantes, com base na informação da AIMA, contrariavam declarações do Governo sobre o posicionamento relativo de Portugal, nesta matéria, no contexto europeu, e suscitavam críticas de empolamento, por parte do Sindicato dos Trabalhadores da Migração. Para o cidadão comum, sem acesso privilegiado a qualquer fonte de informação, acreditar nestes números, no consequente desempenho dos governos e na eficácia das políticas públicas, basear-se-á em grande medida na sua fé.