Exclusivo

Opinião

Ventos de Espanha e outros ventos

É, de facto, um mistério percebermos onde gastámos tanto dinheiro durante tanto tempo. Não sabemos onde, mas sabemos porquê: porque metade do país vive à conta do Estado

Entre as frases feitas, transformadas em verdades absolutas, que mais me irritam está a “de Espanha nem bom vento nem bom casamento”. Trata-se de uma reminiscência histórica medieval, injusta e que reflecte um sintoma de inferioridade mal resolvido da nossa parte. Pelo contrário, eu penso que, ultrapassados ou controlados alguns problemas de vizinhança — nas pescas, na proximidade das centrais nucleares espanholas e na gestão dos rios internacionais —, a Espanha é um bom vizinho. E mais do que isso: é um dos países que eu mais me habituei a admirar. Pela sua história, pela sua cultura, pela sua literatura, pelo seu modo de estar no mundo, pelo seu povo e os seus hábitos de vida, há muita coisa em Espanha que eu não apenas admiro como também invejo. Por exemplo, a decisão de não continuar a arrastar os pés, como nós fazemos, escudando-se atrás da necessidade de uma posição colectiva da UE, para responder ao genocídio de Gaza, reconhecendo unilateralmente o Estado da Palestina, como eles fizeram — uma forma de pressão diplomática para tentar evitar os planos de Trump e Netanyahu para expulsar todos os palestinianos da sua terra. Por exemplo, a decisão agora tomada de vedar o acesso a redes sociais a menores de 16 anos, não continuando de braços cruzados a assistir ao desmantelamento progressivo de um modo de vida civilizado entre a juventude, assente na informação, no desenvolvimento cultural, no mérito e nas relações normais entre pessoas, trocado pelo terrorismo cívico de uma geração de miúdos youtubers, incels, violadores ou apenas idiotas inúteis, que a sociedade tolera e os paizinhos acarinham.