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Opinião

O desporto entre santos e pecadores

Chegou o momento de assumir que, sem reformas no seu enquadramento institucional e regulador, o desporto continuará a ser uma atividade particularmente suscetível à atividade criminal

A divulgação, entre nós, de mais duas investigações criminais envolvendo o desporto coincide com o décimo aniversário das detenções por corrupção de vários dos principais dirigentes da FIFA em 2015 que chocaram o mundo. De lá para cá, o movimento desportivo reivindica ter-se reformado, mas os escândalos continuam. Um estudo de 2019 estimou em mais de mil milhões o montante de subornos recebidos por responsáveis de federações desportivas. Outro estudo identificava os grandes eventos desportivos internacionais como fonte de corrupção (uma vez que fortes investimentos em infraestruturas ficam sujeitos a exceções às regras habitualmente aplicáveis). Relatórios do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia identificam a atividade económica desportiva como particularmente suscetível à evasão fiscal e ao branqueamento de capitais (só em comissões de agentes circulam no sistema de transferências do futebol — sem qualquer clearing house garantindo a origem legal do dinheiro — quase mil milhões de euros). O crescimento das apostas desportivas online tem feito crescer de forma significativa a corrupção desportiva (match-fixing). Estima-se, aliás, que mais de 2/3 do mercado de apostas desportivas sejam ilegais. Se isto tudo vos parece um exagero, o que dizer da declaração do ex-diretor-geral da Agência Mundial de Combate ao Doping (a única agência mundial no desporto) que afirmou que o crime organizado controla 25% do desporto mundial?