Opinião

Crescer ainda mais nas exportações agrícolas? Só precisamos de ambição

Portugal tem um enorme potencial de crescimento e poderíamos estar num outro nível de evolução nas exportações de frutas, legumes e flores, se o investimento das empresas fosse acompanhado por uma aposta forte do Governo na gestão dos nossos recursos hídricos. A estratégia “Água que Une” trouxe, finalmente, medidas concretas

As mais recentes estatísticas do comércio internacional, relativas a 2024, trouxeram a confirmação de algo que o setor agrícola e, em particular, de frutas, legumes e flores, há muito já sabe: é possível atingir crescimentos consecutivos nas exportações e bater recordes ano após ano.

Quem trabalha no terreno não duvida do enorme potencial económico deste setor, que não tem parado de investir em inovação, conhecimento e tecnologia para oferecer produtos, cuja qualidade é reconhecida e, cada vez mais, valorizada nos mercados internacionais.

Nos últimos 14 anos duplicámos o valor da produção atingindo cerca de 4,8 mil milhões de euros. Em 2024, as exportações portuguesas de frutas, legumes e flores atingiram o valor mais alto de sempre: 2,5 mil milhões de euros. De acordo com o INE, as vendas da produção nacional para os mercados internacionais aumentaram 7,5% em valor, face a 2023. Em volume, as exportações também registaram uma evolução positiva de 2,4%, para um total de 1.816.807 toneladas. A União Europeia é o principal destino das frutas, legumes e flores produzidos em Portugal, representando 81% das exportações em valor. Espanha lidera na lista dos principais destinos (37,6%), seguido por França (13%), Países Baixos (9%), Alemanha (7,9%) e Reino Unido (6,8%).

As frutas frescas representam 43% deste valor, com destaque para os pequenos frutos (348 milhões de euros de exportações); os hortícolas frescos valem 24% do total das exportações - com destaque para o tomate fresco (134 milhões de euros), os preparados de frutas e legumes 28%, com destaque para o tomate de indústria (392 milhões de euros) e as plantas ornamentais e flores representam 6% do valor das exportações.

Mas estes números poderiam ser ainda melhores se houvesse mais ação e ambição. Portugal tem um enorme potencial de crescimento e, por estes dias, poderíamos estar num outro nível de evolução nas exportações de frutas, legumes e flores, se o investimento das empresas fosse acompanhado por uma aposta forte do Governo central na gestão dos nossos recursos hídricos. O setor tem investido continuamente na melhoria das suas infra-estruturas e apostado em investigação e tecnologia de forma a gerir de forma criteriosa a água que tem disponível. Chegámos a um ponto em que é urgente a modernização dos perímetros de rega - muitos com mais de 50 anos. O desinvestimento nas infraestruturas hídricas é, hoje, uma pesada fatura em termos ambientais e um travão à competitividade da nossa agricultura.

A estratégia “Água que Une”, apresentada pelo primeiro-ministro em Coimbra trouxe, finalmente, medidas concretas e um cronograma de investimento temporal para curto e médio prazo (os próximos 5 anos), que vão permitir aproveitar parte do enorme potencial que o país tem. O projeto prevê um investimento de 5 mil milhões de euros até 2030 na construção de mais de 120 mil hectares de regadio, no aumento de mais 1.500 hm3 de disponibilidade de água, muitas modernizações e algumas novas barragens.

Estas medidas permitem melhorar, ligeiramente, a segurança alimentar na União Europeia, diminuindo a dependência das importações, e dar um enorme contributo para a economia nacional. Importa agora garantir a concretização, independentemente dos ciclos políticos.

Ninguém pode duvidar da importância estratégica da agricultura para o País, não só do ponto de vista económico, mas também social e ambiental. Além de gerar riqueza e criar emprego, tem um papel fundamental na fixação de populações no interior do país, contribuindo para o combate à desertificação do território.

Já demos provas da capacidade, talento e produtos de excelência. Falta agora um compromisso sólido que permita desbloquear o enorme potencial do setor agroalimentar.


Com mais investimentos nas infraestruturas necessárias, Portugal pode consolidar-se como um dos principais exportadores de produtos agrícolas da Europa. Haja ambição!